"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

POETA-POEMA, 49: JOYCE KILMER

Cap Cod evening (1939), de Edward Hopper.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

ÁRVORES

Sei que nunca verei um poema mais belo e ardente
Do que uma árvore; uma árvore que encerra
Uma boca faminta, aberta eternamente
Ao hálito sutil e flutuante da terra.
Voltada para Deus todo o dia, ela esquece
Os braços a pender de folhas, numa prece.
Uma árvore que, ao vir do estio morno, esconde
Um ninho de sabiás nos cabelos da fronde.
A neve põe sobre ela o seu níveo diadema
E a chuva vive na mais doce intimidade
Do tronco, a se embalar nos galhos seus;
Qualquer néscio como eu sabe fazer um poema.
Mas quem pode fazer uma árvore? Só Deus.

JOYCE KILMER (1886-1918). Poeta, jornalista e crítico estadunidense. Seu livro mais conhecido é Árvores e outros poemas (1914), capitaneado pelo poema acima, célebre e soberbamente traduzido para o português por Olegário Mariano, que o deixou tão belo quanto no idioma de origem. Kilmer, cujo nome principal era Alfred, morreu na segunda batalha do Marne.

Nenhum comentário: