Parque de Luxemburgo (1905), de Eliseu Visconti. |
Despertar com ambos alguma consciência. |
MODINHA DO EMPREGADO DO BANCO
Eu sou triste como um prático de farmácia,
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.
Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora!
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se eu tivesse estes contos punha a andar
a roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E os fregueses do Banco
que não fazem nada com estes contos!
Chocam outros contos pra não fazerem nada com eles.
Também se o Diretor tivesse a minha imaginação
O Banco já não existiria mais
e eu estaria noutro lugar.
MURILO MENDES (1901-1975). Poeta brasileiro, nascido em Juiz de Fora, MG. Um dos mais importantes do nosso vernáculo, mas também um dos mais subestimados. Participou da grande renovação que o Modernismo promoveu em nossas letras, com seu estilo singular, de tom a um só tempo solene e jocoso, unindo coloquialismo e imagens suprarreais. O poema acima está em Poemas (1930).
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