"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 26 de julho de 2014

MAIS OUTRO AVIÃO

Destroços do voo para a Argélia (Globo.com).
Em apenas poucos dias partiram Nadine Gordimer, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna e agora o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, autor do "Dicionário enciclopédico de astronomia e astronáutica" (Nova Fronteira, 1987), o primeiro do gênero em todo o mundo. Um brasileiro ilustre que a imprensa em geral ignora, em favor de Dungas e Sininhos. 

A poetisa uruguaia Idea Vilariño tem um poema que nos dá bem a medida desta constante transitoriedade da vida, quando nos diz que "cada tarde que finda formosamente morre", como as pessoas. E conclui: "mais uma, menos uma". 

Para onde quer que os quatro acima tenham ido, são mais um por lá, e menos um por aqui, para a felicidade das Sininhos de plantão, que, em nome de ideais políticos questionáveis, depredam, ferem e até matam. E ainda encontram entusiasmados seguidores. Histéricos de porta de cadeia, com os braços abertos para recebê-los. Não importa se fazem o bem ou o mal. 

Mas em breve o relógio marcará a supressão de mais uma vida, ou por cansaço ou por doença ou por atentado ou por acidente. Ou simplesmente por ideais políticos questionáveis. 

Nos últimos dias, três aviões caíram... E, como se sabe que eles caem em série de três ou quatro, a qualquer momento pode cair mais outro, até que peças mecânicas e cabeças vivas se aquietem, e a vida siga em frente, sem acidentes aéreos. Ao menos por um tempo. 

E eis que Israel joga mais uma bomba sobre a cabeça de um punhado de civis inocentes, e os extremistas adversários agradecem por mais este pretexto para intensificar seus atos violentos e desumanos, por este ou aquele ideal: político, religioso, partidário, rarefeito, obsoleto, vazio. 

E é Idea Vilariño, mais uma vez, quem conclui: "Pobre mundo, vão desfazê-lo, vai voar em pedaços".

Já está voando. Ou caindo. Como prefiram. Desde muito tempo.

É um voo com destino previsto. E não haverá sobreviventes.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 38: ALEMANHA TETRACAMPEÃ!

Götze, o iluminado (Globo.com).
No Maracanã, ontem, o gol de Götze, no segundo tempo da prorrogação, conferiu justiça ao jogo e à melhor campanha da Copa. A Alemanha foi, sem dúvida, a melhor seleção do mundial, a mais regular, a de toque de bola mais refinado e que, no momento certo, soube se impor aos adversários. Forma, aliás, com Holanda, Colômbia, França, Bélgica e Argentina uma espécie de sexteto de ouro, abaixo do qual todas as demais seleções estão, inclusive o Brasil, que foi protagonista do maior fiasco da Copa.
 
Surpreendeu a todos que a FIFA premiasse Messi como o melhor jogador da Copa. Nem ele mesmo acreditava nesse galardão e, por isso, ficou ali, com a taça na mão, sem saber o que fazer. Faltou ao mesmo a humildade de recusar o prêmio e o entregar a Kross, Robben, Jamis Rodríguez, Müller ou Neuer. Na verdade, a FIFA deu ao argentino um prêmio de consolação, como fizera em 2010, ao escolher Forlán. Se assim foi, deveria dar algum também ao selecionado brasileiro. Um muro besuntado de graxa, digamos, diante do qual os caras ficassem a se esfregar e chorar suas lágrimas infantis, de adolescentes tardios, como bem definiu o escritor Carlos Barbosa.
 
E soube agora que Felipão foi embora, com a demissão debaixo do braço. Que vá! Só espero que, às portas de 2018, não seja chamado mais uma vez para salvar a pátria. Ou enterrá-la. Com a CBF, assim como com a FIFA, tudo é possível.
 
O Diário da Copa volta em 2018, se a vida assim permitir e Deus nos conceder tal direito.

domingo, 13 de julho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 37: BRASIL RIDÍCULO!

Nada será diferente, David Luiz vai continuar "armando" o ataque (MSN).
No seu último jogo pela Copa do Mundo 2014, com o terceiro lugar em disputa, o desempenho do Brasil foi ridículo. Felipão, que não fez mudanças substanciais em nenhum dos jogos anteriores (nem mesmo com o time perdendo de 2x0 para a Alemanha), ontem resolveu mudar às pencas e colocou em campo um monte de jogadores que, a rigor, são piores que os titulares. O lateral-esquerdo, então, é sofrível; não serve nem para sombra de Marcelo. Mas não vou me estender nisso, é chover no molhado: Galvão Bueno já disse, como uma espécie de porta-voz extraoficial da CBF, que daqui a dois meses haverá jogo... Portanto, não há tempo para renovação. Vamos seguir com a via-crúcis: Felipão no comando, os mesmos jogadores, os mesmos problemas, o mesmo Brasil senil que, se disputasse a Liga dos Campeões da Europa, não passaria da primeira fase. Ontem, diante de um time desmotivado e com a cabeça já em Amsterdã, o Brasil permaneceu o que foi ao longo de toda a Copa: sem ameaçar, sem criar, sem se defender com eficiência; e desorganizado, cabisbaixo, confuso, com os reservas tomando aos poucos as rédeas de Felipão na orientação dos companheiros que estavam em campo. Ao final, em ritmo de treino para a Copa de 2018, Holanda 3x0. A CBF deveria ter cunhado umas medalhas de latão para distribuir ontem. Blater, à cata de votos, se não concordasse com a quebra de protocolo, talvez fizesse vista grossa.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

MENOR ESFORÇO E IMAGEM

Snoopy escritor, por Charles Schulz.
"Quero ser velha, mas não quero ser mulher. Quero ser uma erudita, mas não uma estudante. Quero ser uma intelectual, uma escritora, um sucesso, uma autoridade, mas não quero a mão de obra que precede tudo isso."
 
Palavras da escritora britânica Ruth Rendell, através de sua narradora, na novela As pedras no caminho (Heartstones, 1987).
 
Esta citação de Ruth Rendell nunca foi mais atual. Talvez motivadas pela velocidade do mundo, que a internet e a tecnologia em geral só acentuaram nos últimos anos, as pessoas almejam a uma carreira, mas querem se privar de qualquer esforço para alcançá-la.
 
Muitos escritores, por exemplo, não querem ler, nem praticar a escrita, pretendem (não sei como!) sair a escrever qualquer coisa e obter sucesso. Se conseguirem algum, será em meio aos leitores médios, de obras ligeiras, que, em geral, só perduram o tempo de uma estação ou o intervalo do gosto de época, que mais cedo ou mais tarde será substituído por outro. Conscientes disso, vão à mídia ou procuram se manter sempre em evidência, de modo a alicerçar sua obra com algo rarefeito que a sustente: sua imagem.
 
O fato de um escritor estar na mídia, sendo entrevistado por alguma Fátima Bernardes ou qualquer outro apresentador, não é certeza de que ele escreve bem, de que seus assuntos são necessários e elevados, e de que vale a pena o leitor se debruçar sobre sua obra. Muitas vezes é o inverso: é exatamente por isso que ele não deve ser lido, pois sua obra precisa de aparato, de apêndices e notas para se promover ou se consolidar. E não raro ele comparece ao programa por outras causas, quase sempre extraliterárias. É só um profissional dando sua opinião. Seus livros, bons ou ruins, estão ausentes. Que o leitor não se engane. A imagem de um escritor não é recomendação para a sua obra. Só esta deve se recomendar.
 
Recentemente, um jornalista me telefonou querendo que eu participasse de um programa de rádio cujo assunto era o Brasil nas Copas do Mundo. Respondi que não tinha competência para isso e que, portanto, declinava do convite. Meio atordoado, ele argumentou que estava me convidando porque eu escrevera o livro O gol esquecido. Ora, é um volume de contos. Uma obra de ficção. Não é sobre a Seleção Brasileira, nem sobre as Copas, nem talvez sobre futebol... O futebol é só um pretexto para temas mais literários e mais humanos. Se ele tivesse lido o livro, saberia disso. E não perderia tempo em me telefonar.
 
De minha parte, se me examino pelo ponto de vista da maioria, devo ter perdido uma oportunidade. É possível. Mas estou em paz e tenho as mãos limpas.

DIÁRIO DA COPA, 36: MUDANDO O FORMATO

A Copa do Mundo é sempre mais empolgante na primeira fase. Quando chega ao mata-mata, cai o nível técnico, os jogos tornam-se amarrados, os esquemas ficam defensivos e raramente ocorre alguma surpresa, exceto quando um time se apaga e se deixa destroçar, como o Brasil na terça-feira.

Por isso, eu acho que a FIFA deveria, depois da primeira fase, compor quatro novos grupos de quatro, classificando o primeiro de cada para as semifinais. A Copa do Mundo, que totaliza atualmente 64 jogos, teria, neste novo formato, mais 12. Mas ganharia em emoção, favoreceria a disputa em detrimento da sorte e manteria mais turistas no país-sede quase até ao final da competição, pois, quando se desfizessem os grupos, estaríamos a quatro jogos da final. 

Tomando como exemplo a Copa atual, teríamos ao fim da primeira fase os seguintes grupos:

I) Brasil, Chile, Grécia, Costa Rica;
J) México, Holanda, Colômbia, Uruguai;
L) França, Nigéria, EUA, Bélgica;
M) Suíça, Argentina, Alemanha, Argélia.

A dificuldade aumentaria nesta fase, porque só se classificaria o campeão do grupo, e todos jogariam três jogos, o que aumentaria a disputa e injetaria na competição o mesmo ânimo do início, transformando cada jogo numa possibilidade efetiva de classificação, e não num provável adeus precoce, como o formato atual.

Obviamente que, além disso, para a Copa se ajustar ao período de um mês, na segunda fase de grupos os jogos teriam que acontecer com um intervalo de tempo menor. Mas isso seria muito bom, pois permitiria o uso dos reservas numa escala maior e acirraria a competição, que se tornaria mais variada técnica e taticamente, a fim de se contornar ocasionais percalços. 

Há quatro ou cinco Copas que só a primeira fase me empolga realmente. O mata-mata é a certeza de jogos feios, truncados, de esquemas defensivos e uma capitulação ao temor de perder. Por esse ângulo de abordagem, eu diria que o único jogo emocionante, de fato, nas fases de mata-mata, nesta Copa, foi Brasil 1x7 Alemanha. Um jogo de matar, para um lado e outro. Mas foi uma exceção, um acaso que por muitas Copas não veremos de novo.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 35: PÊNALTIS, ARRE!

Argentina a caminho do tricampeonato (IG).
Holanda e Argentina fizeram possivelmente um dos piores jogos da Copa. Acovardadas, talvez por influência da goleada de ontem da Alemanha sobre o Brasil, jogaram antes para não tomar gols do que para fazê-los. E foram conduzindo, pachorramente, o jogo para a disputa de pênaltis.

(E não tem coisa mais maçante que decidir um jogo através de pênaltis. É a evidência de que não houve competência.)

Ao fim, "brilhou" (foi o que a imprensa disse) o goleiro argentino, com duas defesas; e nada pôde fazer o arqueiro holandês, que, em se tratando de pênaltis, não deveria mesmo ficar em campo. Neste quesito, o terceiro goleiro da Holanda é melhor, o que ficou comprovado contra a Costa Rica.

E mais uma vez Argentina e Alemanha vão decidir uma Copa do Mundo. Uma decisão tão monótona quanto o jogo de hoje.

terça-feira, 8 de julho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 34: OLÉ ALEMÃO!

Alemanha 7x1 Brasil (IG).
Talvez seja inútil comentar, depois de tudo, esta goleada da Alemanha sobre o Brasil, mas a verdade é que dias atrás eu disse que o pior técnico da Copa era Felipão. Também falei que talvez a ausência de Neymar pudesse favorecer o Brasil. Eu estava certo e igualmente errado. O Brasil quis a todo custo ser um time de um jogador só. E, sem ele em campo, sobraram os erros crassos do seu técnico.

Felipão é, de fato, muito ruim, pois, desde a convocação, ofereceu aos brasileiros um time sem inspiração, sem meio de campo, sem ímpeto e, pior, dependente de um único jogador, sobre o qual se depositava todas as esperanças e que, se falhasse, como falhou, ainda que por contusão, todo o time falharia. Essa é a lógica de Felipão.

E que neste jogo se revelou escabrosa, pois, numa semifinal de Copa do Mundo, o time leva dois gols e nada é feito, não há mudança tática, nem de jogador, simplesmente o time continua como está, atônito, vago, inexpressivo, inoperante, limitado. Final do primeiro tempo, o inesperado, mas inevitável em tais circunstâncias: 5x0. A Alemanha não é isso tudo, mas, com a ajudinha do Brasil, tornou-se uma súbita máquina de fazer gols. E vai para a final com muita segurança e com seu futebol eficiente e pragmático.

Por fim, também falei, dias atrás, que não era porque o Brasil organizara a Copa que haveria de ganhá-la. O Governo brasileiro (em mãos do Partido dos Trapaceiros), a CBF, a imprensa em geral, Felipão, Neymar e muitos outros jogadores acharam isso: que a Copa do Mundo em si era uma simples festa para o Hexa. Agora sabem, dramaticamente, que não.

Essa derrota haverá de ser um divisor de águas, o enterro de técnicos como Filipão, que se enganam com a ideia de que o Brasil, não importa o adversário, ganhará sempre, pois é sempre o melhor. Por isso não estudam as outras seleções, não trabalham em função de anulá-las, nunca. Acham que vão levar três gols e fazer quatro. Pois levaram sete e quase não fizeram nenhum. Apropriadamente. Há muitos anos que no futebol o Brasil não é mais o melhor: apenas mais um na roda. Eis a verdade. E nem adianta inventar Neymares.

A maior lição que o país pode tirar desta goleada humilhante está nas palavras de um alemão ilustre, Goethe: "O início e o fim de qualquer atividade artística é a reprodução do mundo à minha volta através do mundo dentro de mim".

sábado, 5 de julho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 33: MESSI VERSUS VAN PERSIE

De novo a Laranja (IG).
A Bélgica lutou um pouco; a Costa Rica um pouco mais. Porém, os resultados do dia refletem o esperado e especulado pela maioria quando o assunto é prognosticar: as grandes seleções, ao fim, chegam com vantagem sobre as demais, sem muita tradição. E assim, como o Brasil se impôs sobre a Colômbia, e a Alemanha sobre a França, a Argentina venceu a Bélgica (1x0) em Brasília, e a Holanda, a Costa Rica, em Salvador, muito embora esta necessitasse dos pênaltis, depois de um intenso 0x0, e de seu terceiro goleiro, Krul, que entrou em campo no último minuto da prorrogação para defender duas cobranças. É a razão acima da emoção. Veremos agora um duelo de Messi contra Van Persie. Poético já é. Se será mais ou menos prosaico, saberemos na quarta-feira. E até lá os dois já conhecerão seu adversário: Brasil ou Alemanha.

A par disso, falou-se muito ao longo do dia sobre o corte de Neymar da Copa do Mundo, depois da grave contusão que sofreu no jogo de ontem. E pede-se a punição de Zuñiga. E teme-se a sua ausência no Brasil. Não sou vidente, já disse, mas:

1) o jogador colombiano que aplicou a violenta joelhada em Neymar dificilmente será punido, pois não há evidência clara de deslealdade na cena, e o próprio Zuñiga, sem histórico de violência, já se encarregou de se defender, obviamente. O caso de Suárez é um, este é outro. Naquele prevaleceu o exotismo (mordida), um ato quase abstrato, que não podia ser previsto e que, além disso, é extra-jogo, incomoda como um corpo estranho no olho. O caso de Zuñiga pode ser avaliado como uma consequência do corpo a corpo, algo da natureza do futebol. Não há como se estabelecer se foi, de fato, uma agressão ou não.

2) na contramão do que se tem dito, acho que a ausência de Neymar será benéfica para o Brasil, que agora poderá ser mais coletivo, menos frenético, independente das arrancadas, nem sempre objetivas e sempre espalhafatosas, de Neymar. A verdade é que ele parecia estar mais interessado em seu desempenho pessoal do que integrar, como uma peça a mais, um conjunto vencedor. Em alguns momentos, tal aspecto tornava-se conveniente ao time, mas, no geral, o prejudicava. Não foram raros os lances em que podíamos decidir as partidas, e não o fizemos por causa do egoísmo de Neymar.

3) se a FIFA deve punir alguém pelo que houve, esse alguém é o árbitro espanhol. Um panaca em campo. Foi ele quem permitiu que se chegasse àquela joelhada. E deve igualmente atentar para o fato de que o juiz precisa realmente ser neutro, inclusive no idioma. Se o jogo envolve Brasil e Colômbia, coloca-se um árbitro francês ou italiano ou inglês ou sueco ou russo ou alemão. Um juiz que fale outra língua, de modo que não simpatize, nem inconsciente nem psicologicamente, com nenhum dos dois times. Contra o Chile, o juiz, se não me engano, também falava espanhol, o que é  uma lástima.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 32: DIA DOS ZAGUEIROS!

Zagueiros decidem para o Brasil (IG).
Mais cedo, no Maracanã, um gol do zagueiro Hummels decretou a vitória da Alemanha. O jogo não foi bom. Não sei se a França foi apática ou se foi a Alemanha que, ao chegar ao gol muito cedo, deu-se o luxo de burocratizar a sua atuação. Só nos cinco minutos finais a França atentou para o fato de que estava disputando uma quarta da final de Copa do Mundo, mas, então, era tarde. E a Alemanha não se esforçou muito por matar o jogo, conduzido em ritmo baixo, quase como se fosse um treino um pouco mais intenso.

Em Fortaleza, me pareceu que os pênaltis, no jogo anterior, serviram de lição ao Brasil. Mais vibrante e decidida, com marcação intensa, afinal de contas do outro lado estava uma das mais técnicas seleções desta Copa, nossa seleção se impôs e chegou, como a Alemanha, muito cedo ao gol, com Thiago Silva, como se fosse um centroavante. Houve também mais solidariedade entre os jogadores (até Neymar passou mais a bola, embora no segundo tempo voltasse a prendê-la excessivamente). O meio de campo continua "quatro malucos num quarto escuro", mas, de alguma forma, neste jogo, o time conseguiu compensar esta deficiência com a rotatividade de posição dos jogadores.

No segundo tempo, o gol de falta de David Luiz só saiu porque ele colocou a bola sob o braço (como o mestre Didi no passado), decidido a batê-la. Se não agisse assim, seria mais uma falta batida por Neymar, que acha que a Seleção Brasileira é o Santos. Atitudes como essa do David Luiz precisam acontecer mais vezes. Para benefício do time. E não em prejuízo de Neymar.

O choro final de James Rodríguez representou o que foi a Colômbia nesta Copa: um time de valor, técnico e que aspirava a muito mais do que obteve. Uma pena que tenha cruzado com o Brasil tão cedo. E o consolo de David Luiz ao craque colombiano lembrou o de Ghiggia aos jogadores brasileiros na Copa de 1950. É ao mesmo tempo reconhecimento ao valor do outro e desportividade. E deveria acontecer mais vezes.

A contusão de Neymar, que esperamos não seja grave (apenas um susto), pode ao menos servir de lição para ele. Prender a bola em excesso leva a isso, além de atrasar o time: não raro, irritado, o adversário acaba, no calor do jogo, praticando atos impensados, como a joelhada que o dez brasileiro tomou nas costas.

De resto, é triste que o Brasil precise dos zagueiros para ganhar seus jogos. Isso não é o normal e reflete o que é o nosso time: ótima defesa, um ataque apenas razoável e um meio de campo inoperante. Daí a escassez de gols. E o desespero a cada jogo.

Contra a Alemanha, não digo que o Brasil vá perder, porque não sou vidente. E porque a Alemanha jamais foi de nos dar trabalho. Se fosse a Holanda ou a França, a Itália...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 31: SELEÇÃO DA COPA (1)

Robben: candidato a craque da Copa, se a FIFA deixar (GOAL).
Mais cedo ou mais tarde vão ser escolhidos os melhores jogadores da Copa, e a escolha vai prevalecer de uma coleta que no máximo vai contemplar jogadores dos quatro finalistas. Desse modo, não será de admirar que alguns embustes apareçam, especialmente porque a FIFA costuma eleger os melhores antes da final e, mesmo que um jogador faça 5 gols na decisão, pode não estar entre os melhores. Lembremos a Copa de 2010, na África do Sul: o craque do Mundial, eleito pela FIFA, foi Forlán. E o mundo teve de engolir.

Se formos levar em conta o desempenho em um ou mais jogos, eu diria que uma ótima seleção do Mundial até aqui seria a que se segue:

Goleiro: Howard (EUA), sobretudo pelo que fez no jogo contra a Bélgica
Zagueiro 1: Yepes (Colômbia), pela regularidade e constante atenção ao longo do jogo
Zagueiro 2: David Luiz (Brasil), regularidade e capacidade de improvisar, fazer outras funções
Zagueiro 3: Kompany (Bélgica), regularidade e segurança
Meio-campo 1: Kroos (Alemanha), amplo domínio do meio de campo
Meio-campo 2: Bryan Ruiz (Costa Rica), elegância, bons passes e gols
Meio-campo 3: James Rodríguez (Colômbia), habilidade, visão de jogo, solidariedade com os companheiros e gols
Meio-campo 4: Messi (Argentina), por carregar, com seu talento, um time inteiro nos pés
Atacante pela direita: Valbuena (França), velocidade e oferta de passes para os gols franceses
Centroavante: Van Persie (Holanda), técnica, vigor e improviso
Atacante pela esquerda: Robben (Holanda), é o mais impetuoso e veloz dos jogadores da Copa.

Mas Benzema pode fazer 3 gols na final. Ou Müller. Ou o boboca do Neymar. E aí deve-se, por força do desempenho, escalar o cara na seleção do mundial.

Se eu tivesse de escolher hoje o craque da Copa, optaria por Robben. Já a revelação: James Rodríguez.

Melhor técnico: ficaria em dúvida quanto a quatro ou cinco nomes, com uma forte inclinação para os técnicos Marc Wilmots e Louis van Gaal, respectivamente da Bélgica e da Holanda, pela capacidade e coragem de mudar o esquema de seus times e, assim, chegar às vitórias. Mas o pior técnico é fácil: Felipão.

Se houvesse um prêmio para perseverança e desportividade, deveria ser dividido entre cinco países, pelo que fizeram em campo: Argélia, Grécia, Suíça, EUA e Austrália. Não tinham muitas chances, quase sempre estavam atrás do marcador contra países bem superiores, mas não desistiram em nenhum momento de buscar a vitória ou um melhor resultado.

Já a maior decepção: o meio de campo do Brasil. O pior de todos os tempos. Um verdadeiro horror. Um balaio de gatos. Um quarto escuro cheio de malucos.

A piada do mundial foi Suárez. Ou todo o time do Uruguai, reforçado por Cristiano Ronaldo.

Prêmio fair play: para o time da Espanha. Era a campeã mundial, badalada nos quatro cantos do planeta, um exemplo geral de futebol moderno... E caiu melancolicamente logo no início da Copa. Mas em momento algum apelou em campo. Perdeu de cabeça erguida e, de cabeça erguida, foi para casa, refazer-se. Um exemplo para os jogadores e países chorumelas, como o Chile. 

Gol mais bonito: o peixinho de Van Persie, contra a Espanha. Mais dois se destacam: o de Cahill, da Austrália, contra a Holanda, e o de James Rodríguez, contra o Uruguai. 

terça-feira, 1 de julho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 30: OS GRANDES

A festa belga (IG).
As seleções de nível técnico mais baixo, diante das seleções mais qualificadas, resistem de igual para igual somente um tempo, pois compensam o desnível técnico com o condicionamento físico, a marcação intensa e a vontade de se superar. Mas, tão logo o segundo tempo avança, e o cansaço chega, começam a ceder terreno em face da técnica mais apurada do adversário, que, tocando a bola e improvisando, mais cedo ou mais tarde chegará ao gol. Foi assim com a França, a Alemanha e a Holanda, em seus jogos contra Nigéria, Argélia e México.

Nos dois jogos de hoje este aspecto mais uma vez prevaleceu. Em São Paulo, a Argentina, que parecia jogar em casa, tantos eram os hermanos no estádio, só conseguiu marcar seu gol quando a marcação da Suíça já carecia de energia para se manter naquela intensidade do início. Observem que o chute de Di Maria é quase em câmera lenta, sem que marcadores nem o goleiro o alcancem. O placar de 1x0 foi construído mais pelo desmanche da Suíça do que pelos méritos da Argentina, que demonstrou ser uma seleção que empaca, como a brasileira, quando se vê diante de uma marcação mais agressiva. E, assim, passa a depender cada vez mais de Messi.

O jogo da Bélgica, em Salvador, não foi muito diferente. A superioridade técnica dos belgas só se estabeleceu no segundo tempo e especialmente na prorrogação, quando os EUA, de tanto se esforçar por se equiparar ao adversário, começou a dar sinal de fadiga. Então o técnico belga botou o time ainda mais para a frente, reforçou o ataque e logo vencia de 2x0. Só não contava com a garra de um país que não desiste nunca, pois não é da natureza do povo norte-americano ser inferior a ninguém. Ao obter seu gol no início do segundo tempo da prorrogação, os pupilos do Tio Sam incendiaram o jogo e por duas ou três vezes estiveram por empatá-lo, circunstância que fez deste jogo um dos melhores da Copa e talvez o mais disputado das Oitavas.

Nas Oitavas ficou bem evidente por que nesta Copa os grandes são grandes. Colômbia,  Holanda, França e Bélgica parecem mais técnicas. Alemanha e Brasil jogam com sua tradição em erguer taças. A Argentina é uma incógnita que depende da inspiração de Messi, que vem fazendo a diferença. E a Costa Rica, bem, é o patinho feio que pode se fazer cisne.