"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 18 de outubro de 2014

POETA-POEMA, 50: Oliverio GIRONDO

A arte onírica do pintor argentino Xul Solar.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

MITO

MITO
meu mito
acorde de lua sem pijamas
ainda que me afundes tuas espinhas psíquicas
mulher pescada pouco antes da morte
aspirossorvo até o delírio tuas magnólias calefaccionadas
quanto decoro teu luxuosíssimo esqueleto
todos os acidentes de tua topografia
entretanto declino em qualquer tempo
tuas titilações mais secretas
ao precipitar-te
entre relâmpagos
nos tubos de ensaio de minhas veias

OLIVERIO GIRONDO (1891-1967). Poeta argentino, equiparado em gênio a Jorge Luis Borges, mas, em estilo, ambos são diametralmente opostos, qualquer que seja o critério de comparação. Foi uma das vozes renovadoras da poesia durante as vanguardas latino-americanas. O poema acima é do tardio A pupila do zero (Iluminuras, 1995), cuja edição original, sob o título En la masmédula, é de 1954. A tradução é de Régis Bonvicino.

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