"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

POETA-POEMA, 34: MAIAKÓVSKI

O mundo em cores do bielo-russo Leonid Afremov.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

E ASSIM ME ACONTECEU

Os navios para o porto navegam;
os trens trafegam para as estações.
Assim eu, tão mais depressa 
afinal, eu amo!
 para ti, minha desembocadura, sou entregue.
O cavaleiro avaro de Pushkin
adorando seu ouro no porão
cava e enterra.
Assim eu
para ti, minha amada, regresso.
Meu coração aí está
e minha adoração é essa.
Ao regressar à casa estamos contentes  
nos lavamos, fazemos a barba.
Assim eu
para ti regresso  
acaso, para ti indo
não estou voltando para casa? 
São, as criaturas terrestres,
recolhidas para o seio da terra;
progredimos para lá
onde tudo começa.
Assim eu
por ti
sou tragado continuamente 
mal nos separamos
é em ti que se acaba.

VLADIMIR MAIAKÓVSKI (1893-1930). Poeta e prosador russo. Multifacetado, também foi roteirista, desenhista e ator. A maior voz lírica da Rússia pós-Revolução e seguramente um marco, como o fora Pushkin. O poema de amor acima está em Liubliú [Amo], que se segue a Uma nuvem de calças, reunidos num só volume pela editora Medita, de Campinas, em 2013, com tradução de André Nogueira.

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