"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

POETA-POEMA, 41: EDNA S. V. MILLAY

Manhã, de Edvard Munch.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

SONETO

O amor não é tudo: nem carne nem
bebida, nem é sono, lar da gente,
nem a tábua lançada para quem
se afunda e volta e afunda novamente.
O amor não pode encher o pulmão forte,
pôr osso no lugar, tratar humores,
embora tantos deem a mão à morte
(enquanto o digo) só por desamores.
Bem pode ser, na hora mais doída,
ou da minha franqueza arrependida,
buscando alívio à dor, seja capaz
de vender teu amor por minha paz
ou trocar-te a lembrança pelo pão.
Bem pode ser que o faça. Acho que não.

EDNA ST. VINCENT MILLAY (1892-1950). Poetisa estadunidense das mais cultuadas. Estreou com Renascence and other poems (1917), livro que a tornou célebre e apreciada. Sua poesia é a de uma virtuose de sua matéria, pois não abre mão da técnica apurada, da beleza lírica e da exatidão sintática, mescladas estas a um tom de ironia e, não raro, de cinismo. A tradução aqui é de Paulo Mendes Campos e está em Trinca de copas (Achiamé, 1984).

Um comentário:

Lidi disse...

"O amor não é tudo: nem carne nem
bebida, nem é sono, lar da gente,
nem a tábua lançada para quem
se afunda e volta e afunda novamente."

Versos fortes. Não conhecia a poetisa, Mayrant. Gostei muito.

Um abraço.