"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

LER É PERIGOSO!

Uma bela reflexão do Laerte sobre o fim do hábito de ler LIVROS.
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sábado, 18 de fevereiro de 2012

LEITURAS, 17: MARTHA GALRÃO

Recebo tantos livros pelos Correios (ontem chegou mais um, de contos), que, se eu fosse parar imediatamente para lê-los, não faria mais nada. Tenho em casa uma pilha de livros que recebi desde 2006, e mais outra, um pouco menor e mais recente, no trabalho. A maioria ainda espera leitura, e é assim mesmo, pois todo escritor, como todo leitor, tem suas escolhas de leitura, os autores e as literaturas de sua preferência, sem os quais ele ficaria meio solitário, se não órfão. Portanto, os livros que chegam precisam se encaixar no gosto e no ritmo do leitor. Um dos últimos livros que recebi (e curiosamente a poetisa me enviou dois exemplares, talvez por esquecimento ou porque não lhe dei uma resposta imediata) foi A chuva de Maria (Simões Filho: Kalango, 2011), de Martha Galrão. Este abri a esmo num dia qualquer e fui lendo, lendo e me deliciando. Ao fim, me convenci de que estava diante de mais uma pupila de Safo. Há poemas muito bonitos, como os que se seguem: sonoros, líricos, toantes, confessionais; e cujos assuntos são aqueles mesmos, que cabem nos dedos de uma só mão e fazem a fama de qualquer grande poeta: a morte, a perda da infância, o amor, o tempo, Deus. Só me resta agradecer a Martha Galrão, duplamente, o presente e a oportunidade de desfrutar de sua poesia.

PALAVRAS

Uma palavra lasciva: delícia,
uma palavra dengosa.

Duas palavras alegres: peteca e
manhã.

Uma palavra tensa:
tempo.

Uma palavra firme: chão.
Duas palavras tristes: dor e saudade.

Uma palavra livre:
beija-flor.


SAUDADE

o que me mata
é o silêncio
e o beijo
não ser na boca

o que me mata
é a falta
de seus olhos
nos meus

o que me mata
é a ausência
de mãos
e palavras

o que me mata
é esse breu.


XXXVI

Deixei a menina gritando no coreto da praça.
Larguei lá ― a menina chorando no quintal
passarinho morto na mão.

A menina parada
com seu vestido cada vez mais curto
estatelada.

Tanto gritou que escutei
e fui buscá-la.