A noite estrelada (1889), de Van Gogh. |
Despertar com ambos alguma consciência. |
VI
E, um dia, será o fim. O fim incerto:
as selvas arderão, pira selvagem,
será o fácil momento da pilhagem,
a hora do terror, do desconcerto.
As naves vagarão no mar aberto,
sucumbirão cidades na voragem.
Rasgar-se-ão as virgens, farão viagem
de fuga as caravanas ao deserto.
E, então, será o fim: nos ares, langue
rumor de enxame, olor de mirto e sangue
e um estalar crescente de querelas,
crispadas mãos, bocas em fogo, pranto.
Além, no irado céu, prossegue, entanto,
a marcha inexorável das estrelas.
JULIA PRILUTZKY FARNY (1912-2002). Poetisa argentina, nascida na Ucrânia, e exímia sonetista. Sua principal obra, Antología del amor (1977), inédita no Brasil, ultrapassou vinte edições em 1993, chegando a mais de 200 mil exemplares, algo realmente incomum para um livro de poesia. O soneto acima, extraído daquela obra, foi traduzido por Anderson Braga Horta, em seu livro Traduzir poesia (Thesaurus, 2004).
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