"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

POETA-POEMA, 55: JULIA P. FARNY

A noite estrelada (1889), de Van Gogh.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

VI

E, um dia, será o fim. O fim incerto:
as selvas arderão, pira selvagem,
será o fácil momento da pilhagem,
a hora do terror, do desconcerto.

As naves vagarão no mar aberto,
sucumbirão cidades na voragem.
Rasgar-se-ão as virgens, farão viagem
de fuga as caravanas ao deserto.

E, então, será o fim: nos ares, langue
rumor de enxame, olor de mirto e sangue
e um estalar crescente de querelas,

crispadas mãos, bocas em fogo, pranto.
Além, no irado céu, prossegue, entanto,
a marcha inexorável das estrelas.

JULIA PRILUTZKY FARNY (1912-2002). Poetisa argentina, nascida na Ucrânia, e exímia sonetista. Sua principal obra, Antología del amor (1977), inédita no Brasil, ultrapassou vinte edições em 1993, chegando a mais de 200 mil exemplares, algo realmente incomum para um livro de poesia.  O soneto acima, extraído daquela obra, foi traduzido por Anderson Braga Horta, em seu livro Traduzir poesia (Thesaurus, 2004).

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