"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

POETA-POEMA, 52: SOPHIA DE MELLO

Arredores de Moscou, em novembro de 1941 (1941), de Alexander Deineka.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

O SOLDADO MORTO

Os infinitos céus fitam seu rosto
Absoluto e cego
E a brisa agora beija a sua boca
Que nunca mais há-de beijar ninguém.

Tem as duas mãos côncavas ainda
De possessão, de impulso, de promessa.
Dos seus ombros desprende-se uma espera.
que dividida na tarde se dispersa.

E a luz, as horas, as colinas
São como pranto em torno do seu rosto
Porque ele foi jogado e foi perdido
E no céu passam aves repentinas.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (1919-2004). Poetisa portuguesa. Talvez forme com Cecília Meireles e Florbela Espanca a tríade de excelência da poesia feminina do vernáculo. Fartamente musical, lírica e com imagens surpreendentes, sua poesia inebria o leitor sem jamais fatigá-lo. O poema acima consta da Antología poética (Huerga & Fierro, 2000), bilíngue espanhol-português.

Um comentário:

Unknown disse...

Triste e belo...grande poetisa!