"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 12 de setembro de 2010

A SEGUNDA SOMBRA

O escritor Carlos Barbosa lançará seu mais novo livro, pela editora Multifoco (RJ): o volume de minicontos A segunda sombra. Dia 18 de setembro, sábado, às 10:00 da manhã, na LDM, Rua Direita da Piedade, 20, Centro, Salvador, BA. O livro sai pela Coleção Três por Quatro, dirigida pelo escritor paulista Wilson Gorj, que já publicou prosadores da BA, RS, MG e SP. Clique sobre o cartaz para ampliá-lo.

sábado, 11 de setembro de 2010

ROMANCE DE PÓLVORA

O escritor e crítico literário Hélio Pólvora lançará seu mais novo livro, pela Casarão do Verbo: o romance Inúteis luas obscenas. Dia 23 de setembro, quinta-feira, às 19:30, na Galeria do Livro, Pç. Castro Alves, 132, Centro, Salvador, BA. Clique sobre o cartaz para ampliá-lo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

VÁ E VEJA, 9: RASTROS DE ÓDIO

Pouco se comenta, mas Rastros de ódio foi baseado num famoso romance de Alan Le May, publicado nos EUA em 1954 pela editora Harper & Brothers, com o título The searchers. E muito da estrutura narrativa do filme se deve à estrutura do romance. Mas isso pouco importa, pois é um dos maiores filmes de todos os tempos, pura arte: ambíguo, impiedoso, forte, inclassificável, verdadeiro, realista a ponto de até hoje incomodar e dividir platéias. E o seu final o resume: o destino do Homem é uma porta aberta, uma jornada da escuridão para a luz, do embotamento para a consciência, que foi o que aconteceu com o Tio Ethan, cujas convicções se esfumaçaram, ao fim. O grande personagem é aquele que se transforma, mas sem panfleto, naturalmente, de acordo com a experiência sofrida e com a lógica narrativa, sem a pretensão de mudar nem as pessoas (os espectadores), nem o mundo (a História). Já vi umas oito ou dez vezes e verei tantas mais! Classificam-no, erroneamente, como western ou bangue-bangue. Na verdade, é um grande drama humano, localizado num cenário hostil e implacável, o Oeste Selvagem. Os melhores filmes deste gênero, aliás, ultrapassam o próprio gênero: além de Rastros de ódio, Matar ou morrer, Hombre, Os imperdoáveis, Galante e sanguinário, Céu amarelo, Os brutos também amam, O homem que matou o facínora, e tantos outros. Assistir a estes filmes sob a ótica reducionista da fórmula "tiros, socos e ataques de índios" ou sob o crivo do multiculturalismo, que pretende idealizar o mundo, consequentemente os personagens, é atestar o quanto se desconhece o que seja Cinema, especialmente o Cinema dos Grandes Diretores.

domingo, 5 de setembro de 2010

LINDAS CAPAS, 2

O amor de um professor por sua aluna, e dela por ele. O sentimento, portanto, é recíproco, mas as convenções da época e o temperamento do professor, aliado à sua consciência crítica e ao seu respeito pela profissão, não permitem que a relação se concretize. E esta capa, da edição comemorativa aos cem anos de nascimento de Cyro dos Anjos (1906-1994), expressa tal dilema: o professor, cioso de seu papel de educador, não avança, nem a garota, num ato impensado de audácia, o encoraja. Permanece então o impasse, o verdadeiro assunto do relato: ela, acima dele socialmente, o rosto escondido pela contenção, e ele anulado por sua condição docente, representada aqui pelo recurso gráfico de uma tarja amarela, que ao mesmo tempo o apaga, reprime e aprisiona. Uma capa à altura da excelência de um romance que comprovou, em 1945, o valor literário de Cyro dos Anjos, que, já na estreia, deixava sua obra-prima: O amanuense Belmiro. Para muitos, em vários aspectos, Abdias lhe-é superior.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

VÁ E VEJA, 8: RITOS DE PASSAGEM

Se há um gênero de filme em que os americanos são insuperáveis é a narrativa de rito de passagem da adolescência para a idade adulta. Podemos arrolar facilmente uns dez filmes importantes no gênero produzidos nos EUA. Mas três se destacam: Juventude transviada (Rebel whitout a cause, 1955), de Nicholas Ray, Loucuras de verão (American graffiti, 1973), de George Lucas, e O selvagem da motocicleta (Rumble fish, 1983), de Francis Ford Coppola.

Se o tom do primeiro é de rebeldia e tédio, o do segundo é de indecisão e humor, e o do terceiro, de violência e desorientação. Nos três, porém, os jovens estão transitando: já não são mais crianças, mas ainda não são adultos. Falta algo, talvez segurança, certeza ou simplesmente a capacidade de conciliar a diferença individual com o padrão coletivo. No filme de Ray a fuga da existência vazia e sem horizontes se dá através das noites de farra e pegas automobilísticos, até que um dos participantes morre, e o sonho muda de rumo, para convergir noutra morte, ainda mais estúpida, porque cunhada no erro. No início do filme, num ato de rebeldia da rebeldia o personagem de James Dean bebe leite, numa cena que se tornou célebre e que, em geral, o público não compreendeu. O desfecho, preparado com rigor ao longo da narrativa, parece afirmar que crescer, tornar-se adulto, é o correlato de acordar para a própria vida.

No filme de Lucas, o dilema existencial se resolve numa única noite em que os personagens transitam insones pelas ruas de uma pequena cidade interiorana. Mais uma vez, o pega de automóveis é o emblema de uma transmutação, mas, embora haja ainda um acidente, ninguém morre: o desastre, citação clara ao filme de Ray, serve como um baque, que desperta os personagens do sonho acordado de uma noite inteira, mas sem feri-los gravemente: a vida é outra coisa, e sérias decisões precisam ser tomadas, só isso.

No filme de Coppola, num preto e branco comovente, que a música quase abstrata intensifica ao máximo, tornando-o onírico, os personagens vivem à sombra do Motoqueiro, espécie de herói da juventude da cidade. Forte, bom de briga, inteligente, sensível, capaz de se dar bem em tudo, ele só não é exitoso consigo mesmo: vive em crise e despreza a influência que exerce sobre os mais jovens. Enquanto todos querem imitá-lo, especialmente seu irmão, ser quem ele é, o Motoqueiro, de sua parte, quer ser outra pessoa. Não há mais pegas, nem acidentes de automóveis: o emblema de mudança é mais sutil e poético e, não sem ironia, conduz a um final ambíguo, entre a dor e a redenção. O Motoqueiro reina e reinará sempre, apesar de tudo. Antes pelo seu heroísmo, pelos seus atos, agora pelo que fizeram com ele, lição que seu irmão Rusty James absorve e com a qual, finalmente, cresce.

Três belos filmes sobre a juventude, três eficientes ritos de passagem, três olhares sobre uma época que ninguém esquece e que, perdida, jamais será recuperada, a não ser pela memória, que é o que resta, até que chegue a morte.