"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

POETA-POEMA, 45: MYRIAM FRAGA

O andarilho, de George Grosz.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

TERROR

Esta é a lei
Que me deram,
Lei de cão.

Dente por
Dente,
Sinal de Talião.

Me botaram na praça
Nu
E pássaros
Vinham bicar-me
O ventre.

E arrancaram-me as unhas
E os segredos
E vieram outros pássaros
Rapaces
E me roeram os dedos.

Hoje o ódio é o melhor
Que me consentem.

Vou explodir um mapa
Cheio de gente.

MYRIAM FRAGA (1937). Poetisa brasileira, nascida em Salvador, BA. Lírica, diversa e sempre atenta às possibilidades poéticas, transita por experimentações constantes, como confirma o poema acima, de assunto indigesto, mas de uma atualidade extrema: o terror sempre tem uma causa, é a consequência, a reação a um ato, um procedimento. Poema inserido em As purificações (Civilização Brasileira, 1981).

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