"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 20: W. SZYMBORSKA

A Nova York do pintor mineiro J. Victtor.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |
 
FOTOGRAFIA DE 11 DE SETEMBRO
 
Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns,
mais acima, mais abaixo.
 
A fotografia deteve-os na vida
e agora preserva-os
sobre a Terra rumo à terra.
 
Cada um ainda na íntegra,
com rosto individual
e sangue bem guardado.
 
Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.
 
Ainda estão ao alcance do ar,
no âmbito dos lugares
que acabaram de se abrir.
 
Só duas coisas posso por eles fazer:
descrever este voo
e não acrescentar a última frase.
 
WISLAWA SZYMBORSKA (1923-2012). Poetisa polonesa, Nobel de Literatura de 1996. Sua poesia guarda a diferença do Leste Europeu, renovada por um olhar atento ao mundo em redor e uma tendência ao verso prosaico. O poema acima, embora circunstancial, é notável. Integra o volume Instante (Relógio D'Água, 2006), em tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves.