"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 24: SYLVIA PLATH

The embrace (1917), de Egon Schiele.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

OS DORMINHOCOS

Não se acha em nenhum mapa
A rua onde dormem esses dois.
Perdemos suas pistas.
Dormem como se submersos
Numa luz azul, imutável,
A janela entreaberta

Com cortinas de laço amarelo.
Pela fresta estreita penetra
Cheiro de terra úmida.
A lesma deixa um rastro prata;
Arbustos espessos escondem a casa.
Então olhamos para trás.

Entre pétalas pálidas como a morte
E sobre folhas tesas agora
Eles dormem, boca a boca.
A névoa esvoaça.
As narinas verdes e mínimas respiram,
E eles reviram em seu sono.

Bem longe daquela cama morna
Somos só um sonho que eles sonham.
Suas pálpebras retêm a sombra.
Nada de mal pode lhes acontecer.
Nos descascamos e deslizamos
Dentro de um outro tempo.

SYLVIA PLATH (1932-1963). Poetisa estadunidense. Sua poesia é emotiva, misteriosa, com imagens que surpreendem, e orientada, como ela mesma admitia, pelos sentidos. Uma boa amostra de sua lírica está na antologia bilíngue Poemas (Iluminuras, 1991), na qual se encontra o poema acima, traduzido por Rodrigo G. Lopes e Maurício A. Mendonça.

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