Despertar com ambos alguma consciência. |
A AMIGA COMPLACENTE
A tempestade durou a noite inteira. Selênis, de belos cabelos, viera fiar comigo. E ficou, por medo da lama. Apertadas, enchemos meu pequeno leito.
Quando duas moças dormem juntas, o sono detém-se à porta.
"Bilitis, conta, conta para mim, quem é teu amado?"
E fazia deslizar a perna pela minha, acariciando-me suavemente.
E disse junto à minha boca:
"Eu sei, Bilitis, quem é que amas. Feche os olhos. Eu sou Lykas".
Mas respondi, tocando-a:
"Então não estou vendo que és uma moça? Isso não passa de uma brincadeira de mau gosto".
Ela, porém, continuou:
"Se fechares os olhos, saberás que sou de fato Lykas. Sente seus braços, suas mãos..."
E, ternamente, no silêncio, encantou meu devaneio com sua singular ilusão.
PIERRE LOUYS (1870-1925). Poeta e prosador franco-belga. Sua obra é essencialmente erótica. Brilhante em seu tempo, foi considerado um marco da sexualidade pelos surrealistas. Gozou da amizade de muitos escritores, entre os quais Valéry e Mallarmé. O texto acima, misto de poesia e prosa, integra As canções de Bilitis (Max Limonad, 1984). A tradução é de Carlos Clémen.
Um comentário:
Belíssimo!
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