A Nova York do pintor mineiro J. Victtor. |
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |
FOTOGRAFIA DE 11 DE SETEMBRO
Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns,
mais acima, mais abaixo.
A fotografia deteve-os na vida
e agora preserva-os
sobre a Terra rumo à terra.
Cada um ainda na íntegra,
com rosto individual
e sangue bem guardado.
Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.
Ainda estão ao alcance do ar,
no âmbito dos lugares
que acabaram de se abrir.
Só duas coisas posso por eles fazer:
descrever este voo
e não acrescentar a última frase.
WISLAWA SZYMBORSKA (1923-2012). Poetisa polonesa, Nobel de Literatura de 1996. Sua poesia guarda a diferença do Leste Europeu, renovada por um olhar atento ao mundo em redor e uma tendência ao verso prosaico. O poema acima, embora circunstancial, é notável. Integra o volume Instante (Relógio D'Água, 2006), em tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves.
Um comentário:
Adoro Szymborska!
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