"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 12: GUIMARÃES ROSA

Pintura rupestre da Toca do Pajaú, Piauí.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

GARGALHADA

Quando me disseste que não mais me amavas,
e que ias partir,
dura, precisa, bela e inabalável,
com a impassibilidade de um executor,
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...
Mas olhei-te bem nos olhos,
belos como o veludo das lagartas verdes,
e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,
tive pena de ti, de mim, de todos,
e me ri
da inutilidade das torturas predestinadas,
guardadas para nós, desde a treva das épocas,
quando a inexperiência dos Deuses
ainda não criara o mundo.

JOÃO GUIMARÃES ROSA (1908-1967). Contista, romancista e poeta brasileiro. Autor de clássicos como Sagarana e Grande sertão: veredas. Este surpreendente poema integra o volume Magma, que venceu o I Prêmio do Concurso de Poesia de 1936, da ABL.

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