"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 16 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 18: KAVÁFIS


Exemplo da arte sugestiva de Claude Monet.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

PRECE

Um marujo o abismo do mar guardou consigo.
Sem de nada saber, a mãe coloca um círio

aceso diante da Virgem, um longo círio,
para que volte logo, a salvo dos perigos.

No bramido dos ventos põe o seu ouvido;
mas, enquanto ela reza e faz o seu pedido,

sabe o ícone a escutá-la, grave, com pesar,
que o filho que ela espera nunca há de voltar.

KONSTANTINOS KAVÁFIS (1863-1933). Poeta grego. Duas centenas de poemas irrepreensíveis constituem o legado poético de Kaváfis. Exigente, crítico e discreto, recusou em vida a celebridade e unanimidade de que hoje desfruta. No Brasil, deve-se a José Paulo Paes a melhor tradução de sua obra, bem como o que de melhor se escreveu sobre ela, e que constam do volume Poemas (Nova Fronteira, 1982).

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