"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 26: SÁ-CARNEIRO

Doca do Peixe (1933), de Carlos Botelho (1899-1982).
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

FIM

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos berros e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890-1916). Poeta e prosador português. Melancólico, desvairado, um produto típico da Belle Époque, só em raros momentos alcança o humor moderno do poema acima. Ao suicidar-se, deixou imatura uma obra que prometia altos voos. Sua poesia está reunida no volume de bolso Obra poética (Europa-América, s. d.), organizado por António Quadros.

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