"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 6 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 8: CARLOS P. FILHO

Mulher reclinada com cabelo louro, de Egon Schiele.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

RETRATO NA PRAIA

Ei-la ao sol, como um claro desafio
ao tenuíssimo azul predominante.
Debruçada na areia e assim, diante
do mar, é um animal rude e bravio.

Bem perto, há um comentário sobre estio,
mormaço e sonolência. Lá, distante,
muito vagos indícios de um navio
que ela talvez contemple nesse instante.

Mas o importante mesmo é o sol, que esse desliza
por seu corpo salgado, enxuto e belo,
como se nuvem fosse, ou quase brisa.

E desce por seus braços, e rodeia
seu brevíssimo e branco tornozelo,
onde se aquece e cresce, e se incendeia.

CARLOS PENA FILHO (1929-1960). Poeta brasileiro falecido muito precocemente. Foi um dos grandes líricos pós-Semana de 22. Sua poesia édita e inédita reuniu-se no volume Livro geral (São José, 1959). Alguns de seus poemas ganharam música pelas mãos de artistas importantes, como Capiba, Carlos Marques e Alceu Valença. 

Nenhum comentário: