"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 21 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 23: ALEXEI BUENO

Os elefantes (1948), de Salvador Dali.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

FIM

Eis que o elefante morreu. Na aurora
Viram-no, quieto, a língua de fora.

O circo agora parou na estrada.
Sem o elefante não somos nada!

Os astros choram. A lona inerme
Recobre o corpo do paquiderme.

Não se acha um outro. Nada mais resta
Para as cidades que esperam festa.

Não há saída. Não há futuro.
Ei-lo na estrada, espantoso e duro.

Na noite um bando que já não dorme
Está cavando um buraco enorme.

ALEXEI BUENO (1963). Poeta, editor e ensaísta brasileiro, natural do Rio de Janeiro, RJ. Sua poesia, formal, alegórica e narrativa, desfruta, talvez, neste último aspecto, de uma certa influência da lírica do anglo-americano W. H. Auden. O poema acima foi extraído de Lucernário (Nova Fronteira, 1993).

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