"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 31: MIGUEL TORGA

Desempregados, de George Grosz.
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

LEGADO

O que eu espero, não vem.
Mas ficas, tu, leitor, encarregado
De receber o sonho.
Abre-lhe os braços, como se chegasse
O teu pai, do Brasil,
A tua mãe, do céu,
O teu melhor amigo, da cadeia.
Abre-lhe os braços como se quisesses
Abarcar toda a luz que te rodeia.
Não lhe perguntes por que tardou tanto
E não chegou a tempo de me ver.
Uns têm a sina de sonhar a vida,
Outros de a colher.

MIGUEL TORGA (1907-1995). Poeta e prosador português. Sua poesia, menos conhecida, apresenta tom solene e meditativo. Estreou no gênero em 1928, com Ansiedade, ao qual seguiram-se vários livros. O poema acima consta de Cântico do homem (1950).

Um comentário:

Emmanuel Mirdad disse...

"O que eu espero, não vem.
Mas ficas, tu, leitor, encarregado
De receber o sonho"

Muito bom!