"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

POETA-POEMA, 27: E. DE ANDRADE

Praia de Pescadores, de Marques d'Oliveira (1853-1927).
| Expor um poeta, defini-lo com um só poema.
Despertar com ambos alguma consciência. |

A CASAIS MONTEIRO,
PODENDO SERVIR DE EPITÁFIO

O que dói não é um álamo.
Não é a neve nem a raiz
da alegria apodrecendo nas colinas.
O que dói

não é sequer o brilho de um pulso
ter cessado,
e a música, que trazia
às vezes um suspiro, outras um barco.

O que dói é saber.
O que dói
é a pátria, que nos divide e mata
antes de se morrer.

(Setembro, 1972)

EUGÉNIO DE ANDRADE (1923-2005). Poeta português. Lírico ao extremo, foi chamado de "o grande poeta do amor na poesia portuguesa do século XX" por António José Saraiva. Gozou de muito prestígio em vida e ainda é uma referência lírica do idioma. O belo poema acima está em Antologia breve (Civilização Brasileira, 1983).

Um comentário:

Emmanuel Mirdad disse...

"O que dói é saber".

Perfeito.