"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 24 de junho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 20: O JUIZ DECISIVO

Godín: Uruguai 1x0 Itália (IG).
O melhor jogador em campo em Natal, no confronto entre Itália e Uruguai, foi o juiz. Sua soberba atuação foi decisiva para o resultado, com a assistência precisa que deu à seleção uruguaia, ao expulsar, me parece que injusta e exageradamente, o meio-campo Marchisio. Não sei nem se foi falta, mas, se foi, não sei se foi para cartão vermelho. Talvez nem para amarelo: Marchisio passa por um adversário, choca-se com outro, e a chuteira do italiano raspa a perna do uruguaio, que vai ao solo, numa cena digna do pior dramalhão mexicano. E veio o cartão vermelho, inapelável.
 
O fato é que o juiz não esteve bem. Alternava conversa excessiva com ausência de cartões, conforme orientação da FIFA, mas, de súbito, se perdeu e favoreceu decisivamente o Uruguai. Se me cabe especular, diria que foi o idioma. Mexicano, o juiz simpatizou com os uruguaios e, lá no fundo da alma, viu a Itália como o colonizador, à semelhança da Espanha, e, no miúdo do jogo, foi se deixando pender. Inclusive, foi negligente quando não puniu com o cartão vermelho o atacante Suárez, que, de fato, com um tremendo bocão, mordeu o zagueiro Chiellini. O jogador italiano chegou a correr atrás do juiz, a mostrar o ombro ─ a evidência da falta, a prova da infração  ─, mas sem efeito. O precedente lança a hipótese de que, a partir de agora, nas Oitavas, morder é válido. E teremos a primeira Copa de Vampiros.
 
Se o Uruguai renasceu no jogo em que venceu a Inglaterra, consolidou seu renascimento hoje, com a simpatia do juiz. E quando a arbitragem torna-se simpática a um time, este vai longe. No Brasil, há alguns clubes que desfrutam e muito desta prerrogativa. É bem provável que contra a Colômbia este sentimento aumente, e o Uruguai saia favorecido, mais uma vez.
 
No outro jogo do grupo D, em Belo Horizonte, a Costa Rica segurou o zero a zero contra a Inglaterra e, assim, o primeiro lugar. Um feito histórico, primeira posição no chamado Grupo da Morte, com um imprevisto desempenho que destroçou três campeões mundiais, dois dos quais saem precocemente eliminados. Para a Costa Rica, foi como ganhar a Copa, o que ela dificilmente conseguirá, e digo isso com o mesmo sentimento de simpatia que inclinou o juiz a favorecer hoje o Uruguai.

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