"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 15 de junho de 2014

DIÁRIO DA COPA, 4: BENZEMA E MESSI

Foto: Benzema (IG).
Os três jogos do dia tinham como atração maior a Argentina de Messi. Suíça versus Equador e França versus Honduras não levantavam dúvidas: os europeus iam prevalecer. Sempre pensamos assim, tanto os jornalistas petulantes quanto os ingênuos, bem como boa parte dos torcedores, embora estes tendam a torcer para os times aparentemente mais fracos. Mas havia um precedente: a Costa Rica ontem havia despachado o Uruguai, e com certa autoridade. Então, a orientação era que Suíça e França pusessem as barbas de molho. E também a Argentina. Por que não? Afinal de contas a Bósnia & Herzegovina constituía a antiga Iugoslávia! 
 
Mal começou Suíça versus Equador, compreendemos que o jogo seria muito disputado do início ao fim. Um país frio como a Suíça foi empurrado para Brasília, e às treze horas, sol a pino, capaz de derreter chumbo. Ou a FIFA despreza o contexto clima, ou talvez o ressalte para tirar das seleções seu último cadinho de possibilidade, ou é sadismo mesmo. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, a Suíça não se intimidou. Nem mesmo quando levou o gol. E, no segundo tempo, fez prevalecer sua força física. Sem desistir da partida em nenhum momento, foi encurralando o Equador, até empatar, para depois virar, já nos acréscimos: 2x1. O curioso é que segundos antes o Equador esteve por matar o jogo e não o fez, talvez por causa do preciosismo de seus jogadores. Um prêmio para o time mais ousado em campo e ciente de que poderia vencer. 
 
Em Porto Alegre, a França, um dos grandes menos badalados desta Copa, ao lado da Bélgica, fez a sua estreia e não decepcionou. Não vimos Honduras jogar. Foi a França que passeou e só. Ao final, o placar de 3x0 foi estreito, ainda mais que Honduras jogou todo o segundo tempo com dez jogadores. A novidade ficou por conta da tecnologia artilheira, que estabeleceu uma nova época, talvez de menos dúvidas, ao demarcar eletronicamente a linha de jogo, decretando o segundo gol, ao passo que a FIFA, com seu cartesianismo, mais uma vez "roubou" o gol de um jogador, Benzema, optando por transformá-lo em gol contra. O atacante promove mais de 95% do lance, mas, ao fim, porque o goleiro tocou na bola e a desviou para as redes, ele se torna o grande protagonista.  A verdade é que, sem a FIFA, Benzema seria temporariamente o artilheiro da Copa. 
 
E quanto à Argentina, no Maracanã... Bem, foi um primeiro tempo meio decepcionante, fraco mesmo, com a palidez de um golzinho contra e uma Bósnia & Herzegovina mais aguda, que, caso se arriscasse um pouco mais, talvez tivesse uma melhor sorte, pois toca bem a bola e tem jogadores habilidosos, alguns com certo renome internacional. Messi não fez muita coisa, mas, com a estrela de sempre, bateu a falta que originou o gol contra. Já no segundo tempo,  fez um belo gol, à sua maneira bem peculiar e discreta: o cara não pinta ou corta exoticamente o cabelo, não faz tatuagens, não se exibe gratuitamente, não olha para si mesmo no telão, nem toma a bola para si! Nem o fortuito gol da Bósnia foi capaz de ameaçar a atuação segura da Argentina: o tempero final de uma reação adversária não veio, o que parece revelar que Messi e seus companheiros são frios, mais do que se imaginava.

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