"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 7 de fevereiro de 2009

OUTRO DESTINO

Ontem, um amigo escritor confessou que uma de suas maiores frustrações foi não ter se tornado desenhista ou pintor. Disse isso naturalmente, sem mágoa, enquanto assistíamos à adaptação de O velho e o mar para um belíssimo curta-metragem de animação. Também tenho lá minhas frustrações dessa natureza, e não somente em relação ao desenho e à pintura. Estimo em demasia os músicos, sobretudo aqueles que dominam seu instrumento ao ponto de parecerem uma extensão do mesmo: a violonista espanhola Anabel Montesinos, Astor Piazzolla, Nelson Freire, o sideral Earl Hines... Certa vez li que Hemingway preferia ter se tornado músico de jazz, desejo partilhado por Orson Welles. E há escritores que confessaram grande decepção por não ter seguido a carreira de jogador de futebol ou a de ator. Por sua vez, há atores que declararam ter nascido para outro destino, como James Dean: “Representar é ótimo, e a satisfação é imediata; mas sinto que meu talento é mais para dirigir e, além disso, meu grande medo é escrever. Escrever é Deus. Mas ainda não estou pronto para esse ofício. Sou muito jovem e tolo. Para escrever é preciso ter certa idade; mas sei que quando começar... algum dia...” Infelizmente ele não teve tempo para “ter certa idade”, para aquele “algum dia” projetado e que lhe traria, quem sabe, muito mais satisfação, pois morreu com apenas 25 anos. Prova talvez de que é a vida que nos conduz.

Imagem: cartaz de Vidas amargas (1954), de Elia Kazan, baseado no romance A leste do Éden, de John Steinbeck.

3 comentários:

Hitch disse...

Adoraria me dar ao luxo de guardar certas frustrações. Mas não posso. Para o meu azar, nasci fora de época e não tenho inclinação para nada. É assim que vai ser. No mais, aquele abraço.

Emmanuel Mirdad disse...

Eu queria ter uma voz tão áspera quanto o que eu penso quando tento exprimir o meu pseudo-canto.

Futeboleiros disse...

Mayrant,

cada um com seu fardo alegre... Essa animação russa de "O Velho e o Mar" é uma obra-prima, antologia do Anima Mundi.

Abraço.

Tom