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Capa: Eugênio Hirsch. |
"Uma história não tem princípio nem fim: alguém escolhe um determinado momento vivido e dele parte numa recapitulação ou narrativa. Digo 'alguém escolhe', com o impreciso orgulho de um autor profissional que, mesmo sem ter sido especialmente notado, recebeu elogios pela sua habilidade técnica. Mas serei eu realmente quem escolheu aquela escura, úmida noite de janeiro, em 1946, com a visão de Henry Miles atravessando obliquamente uma espessa cortina de chuva, ou serei eu o escolhido por estas imagens? De acordo com o meu código de ofício, é conveniente e certo começar aí, mas, se naquela ocasião eu acreditasse em algum Deus, acreditaria também em sua mão invisível, conduzindo-me e sugerindo: 'Fale com ele; ele ainda não o viu'."
GREENE, Graham. O crepúsculo de um romance. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. Tradução de Branca Maria de Queiroz Costa. 222p.
ESTILO. Quem escreve a história? O narrador, talvez? Ou será que é a própria história que se inscreve através do narrador, rebaixado este a simples veículo através do qual a trama se constrói? E o cenário, o personagem, quem os coloca ali? Num parágrafo misterioso e refinado, o autor dá início a uma de suas melhores histórias, um romance genuíno, que mistura os gêneros narrativos, diversifica o registro de linguagem e impõe ao leitor reflexões profundas, sem jamais entediá-lo.
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