Foi um dos mais cultuados filmes dos anos 1960 e 1970. Um dos grandes ícones do cinema francês e mundial. Um clássico absoluto, premiadíssimo e imitado à exaustão, um filme que antes de qualquer coisa transforma seu assunto em arte, em modo de se exprimir, método de contar, com novidades atraentes, a mais elementar e antiga história do mundo: o amor de um homem e uma mulher.
Visto hoje, em que ao que parece todas as histórias já foram contadas, em especial as lírico-amorosas, percebe-se o quanto este filme se detém na forma, relegando seu assunto a um simples pretexto para o exercício de recursos cinematográficos singelos e inovadores que mais tarde se tornariam clichês. E, no entanto, diferentemente da maioria dos cineastas que pretendem antes se exprimir do que narrar, como Lelouch soa fluente, puro, direto, franco e sedutor!
A história é mais do que banal: um homem viúvo sempre que pode vai visitar, aos domingos, o filhinho no colégio interno. Uma tarde, de volta, dá carona a uma mulher, jovem e também viúva, cuja filha é colega do menino. É inevitável que, durante a viagem, eles conversem e se deixem atrair. A relação, contudo, se pautará pelas lembranças do casamento de cada um, os cônjuges mortos, a vida que mantinham, o que cada um fazia e como se relacionavam os dois casais. O peso da relação anterior aterra-os, sobretudo à mulher, ainda marcada pela presença, veneração e carícias do marido.
Não é uma história de amor simplesmente. Dor, ausência, lembranças, perdas, silêncios, constrangimentos e até culpa se interpõem entre os dois e dão o tom de beleza e poesia que fazem deste filme um caso único na história do cinema, para o bem e para o mal. Explique-se: foi um dos raros filmes românticos a ganhar dois prêmios capitais, Cannes e Oscar de Filme Estrangeiro, e numa época exigente, em que só arrebatavam estes prêmios filmes de mérito comprovado. Influenciou a publicidade em larga escala, tanto no cinema quanto na tevê, e mesmo a impressa; as propagandas manjadas de cartões de crédito, com casais e seus felizes filhos, praticamente o reproduzem, ano após ano, com variações.
Também foi imitado, plagiado e sofreu, ao longo das décadas, uma crescente conspiração silenciosa com o intuito de depreciá-lo e, por fim, apagá-lo. De certo modo, a postura de Claude Lelouch, sincero ao extremo e cheio de autossuficiência, talvez tenha contribuído para esse destino injusto. Ao receber o Oscar, ele disse, secamente, que sua ida para Hollywood estava fora de cogitação, pois o que ele queria mesmo era fazer cinema de arte. E fez, a despeito de seus detratores.
Críticos vulgares, forjados em redações de jornais e revistas, ou os petulantes, que se esforçam em transformar Tarantinos e Meirelles em gênios do cinema, costumam rejeitar Um homem, uma mulher e ao próprio Lelouch. Um exemplo vulgar: 1001 filmes para ver antes de morrer (Sextante, 2008). O Sr. Steven Jay Schneider (editor geral, responsável, portanto, pela organização do volume) e seus colaboradores de araque desprezam-nos ao máximo: não citam nem o filme nem o diretor. É como se ambos não existissem para aquele universo de 1001 obras cinematográficas supostamente irretocáveis. Ora, "metade" dos filmes que eles arrolam neste livro não vale uma cena de Um homem, uma mulher. E olha que há muitas, para dividir a plateia numa querela de escolhas e preferências. Assistam e confirmem, ou não assistam, o que é muito mais fácil.
A história é mais do que banal: um homem viúvo sempre que pode vai visitar, aos domingos, o filhinho no colégio interno. Uma tarde, de volta, dá carona a uma mulher, jovem e também viúva, cuja filha é colega do menino. É inevitável que, durante a viagem, eles conversem e se deixem atrair. A relação, contudo, se pautará pelas lembranças do casamento de cada um, os cônjuges mortos, a vida que mantinham, o que cada um fazia e como se relacionavam os dois casais. O peso da relação anterior aterra-os, sobretudo à mulher, ainda marcada pela presença, veneração e carícias do marido.
Não é uma história de amor simplesmente. Dor, ausência, lembranças, perdas, silêncios, constrangimentos e até culpa se interpõem entre os dois e dão o tom de beleza e poesia que fazem deste filme um caso único na história do cinema, para o bem e para o mal. Explique-se: foi um dos raros filmes românticos a ganhar dois prêmios capitais, Cannes e Oscar de Filme Estrangeiro, e numa época exigente, em que só arrebatavam estes prêmios filmes de mérito comprovado. Influenciou a publicidade em larga escala, tanto no cinema quanto na tevê, e mesmo a impressa; as propagandas manjadas de cartões de crédito, com casais e seus felizes filhos, praticamente o reproduzem, ano após ano, com variações.
Também foi imitado, plagiado e sofreu, ao longo das décadas, uma crescente conspiração silenciosa com o intuito de depreciá-lo e, por fim, apagá-lo. De certo modo, a postura de Claude Lelouch, sincero ao extremo e cheio de autossuficiência, talvez tenha contribuído para esse destino injusto. Ao receber o Oscar, ele disse, secamente, que sua ida para Hollywood estava fora de cogitação, pois o que ele queria mesmo era fazer cinema de arte. E fez, a despeito de seus detratores.
Críticos vulgares, forjados em redações de jornais e revistas, ou os petulantes, que se esforçam em transformar Tarantinos e Meirelles em gênios do cinema, costumam rejeitar Um homem, uma mulher e ao próprio Lelouch. Um exemplo vulgar: 1001 filmes para ver antes de morrer (Sextante, 2008). O Sr. Steven Jay Schneider (editor geral, responsável, portanto, pela organização do volume) e seus colaboradores de araque desprezam-nos ao máximo: não citam nem o filme nem o diretor. É como se ambos não existissem para aquele universo de 1001 obras cinematográficas supostamente irretocáveis. Ora, "metade" dos filmes que eles arrolam neste livro não vale uma cena de Um homem, uma mulher. E olha que há muitas, para dividir a plateia numa querela de escolhas e preferências. Assistam e confirmem, ou não assistam, o que é muito mais fácil.
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