|
Desenho da capa: Enio Squeff. |
"Cannery Row, em Monterey, Califórnia, é um poema, um mau cheiro, um rangido, uma qualidade de luz, uma tonalidade, um hábito, uma nostalgia, um sonho. Cannery Row é o ajuntamento confuso e tumultuado, em estanho, ferro e ferrugem, madeiras lascadas, calçadas rachadas, terrenos baldios cobertos de mato e pilhas de lixo, de fábricas de sardinha de ferro corrugado, tabernas imundas, restaurantes e bordéis, pequenas mercearias sempre atulhadas, laboratórios e albergues ordinários. Os habitantes são, como disse o homem certa ocasião, 'meretrizes, cafetões, jogadores e filhos da puta' pelo que se referia a Todo Mundo. Se o homem tivesse olhado por outro ângulo, poderia dizer 'Santos e anjos, mártires e abençoados' e estaria significando a mesma coisa."
STEINBECK, John. A rua das ilusões perdidas. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1986. Tradução de A. B. Pinheiro de Lemos. 166p.
ESTILO. De início, a rua é definida subjetivamente. O narrador, ao relembrá-la, parece evocar não um lugar, mas um sentimento, o que o faz derivar para a poesia. Seguem-se, no entanto, elementos concretos do lugar. Deixamos de sentir e passamos a ver, topograficamente. É mais cinema agora que prosa. Por fim, ao contrapor com sua opinião o julgamento geral, o narrador se posiciona e sacraliza o profano. Leitores, e não só os de Steinbeck, foram conquistados e vão atravessar esta história como num sonho benéfico, no qual, em lapsos conscientes, torcemos para não acordar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário