"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

PARTIR

As estradas que vão para o nada.
A distância que as empurra ou retém, não sei.
Olho a amplidão à minha volta e penso em desistir.

Mas preciso estar livre, solto, fora destas amarras,
Como a chuva que cai e corre e desaparece sob a terra.
Sem isso, a vida (ou a alma)
É como uma sala fechada e sem janelas.

É certo que antes de partir preciso mover os pés,
Um após o outro, as pernas a apoiar o peso que sou
E que só em raras ocasiões movimento.

Mas o que aprendemos ao partir ou ficar?

Que somos amados ou odiados, com certeza,
E que sonhar talvez seja a única recompensa –
Versos pelos quais me empurrarão lições de estética.


De Os prazeres e os crimes, volume de poemas sem previsão de publicação.
Foto: Alison Brady, cujo estilo resgata o surrealismo da Pintura Moderna.

5 comentários:

Hitch disse...

Limito-me a evocar, em certa medida, meu passado cristão: se Deus existe, que empurre linhas mais tortas. E deixe-nos orar com Os prazeres e os crimes. Aquele abraço.

Silvestre Gavinha disse...

Ai essas gavetas.
Surrealismo a parte.
Que venham os prazeres e os crimes.
Belos assim.
Nós esperamos.
Marie

Carlos Vilarinho disse...

Suas Letras são ímpares. Sabemos.
Gostei mesmo foi do conteúdo da gaveta.

Palatus disse...

Como sempre, você não me surpreende mais com sua poesia, Mayrant, porque como já se espera sempre são boas e cartáticas de doer e nos resgata das profundezas. Adorei a foto também, é de uma criatividade sempre original.

Abraço!
Jocenilson

Lidi disse...

"Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!" (Mário Quintana)

Foi esta a impressão que tive ao ler o teu poema! Abraço.