"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

CLARÃO

Li meses atrás um romance policial bem comum e elementar, sem nenhum diferencial relevante, nem de forma nem de linguagem, menos ainda de assunto, o tipo de relato que a autora, Mary Higgins Clark, escreve com o propósito de consolidar sua estima junto aos leitores do gênero – menos exigentes a cada nova geração – e mais tarde vendê-lo ao cinema. O título, A stranger is watching, recebeu no Brasil o seguinte acréscimo: Alguém espia nas trevas. Pois bem, mesmo este livro, que é quase um logro (com meia dúzia de equívocos visíveis e sua enfadonha opção pelo suspense), apresenta em seu desfecho um excelente momento, quando a bomba volatiliza o vilão: “Houve um clarão ofuscante, um fragor que lhe despedaçou os tímpanos, e ele foi atirado à eternidade”. Isso só ratifica o que afirmou Borges certa vez: que mesmo o mais medíocre dos poetas é capaz de perpetrar um verso que seja uma obra-prima. Ou duas linhas de excelente prosa. Um clarão nas trevas.

Foto: Sol sobre Itaparica, de A. Café-Gallo.

2 comentários:

Silvestre Gavinha disse...

Um clarão no horizonte.
linda foto. Adoro esse momento triste.Quando o sol encosta no mar e seu chiado distribui fagulhas incandescentes pelas nuvens ao redor. Esse caminho infinito.
Ou quando se termina um bom livro e seu efeito repercute em nosso ser como o fim de uma vida. Quando é esse o caso.
Mas uma frase pode valer, as vezes.
Marie

Hitch disse...

Uma frase (ou imagem) que podem valer tanto o céu quanto o inferno. Ou ambas, sem agravos. Aquele abraço.