"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 18 de janeiro de 2009

AS AVENTURAS DE NICOLAU E RICARDO, DETETIVES

13. Fim do diálogo entre dois homens

Nicolau e Ricardo entram num boteco da Barra, pedem uma bebida e tentam relaxar. Não estão para muita conversa. Tiveram um dia difícil, cheio de interrogatórios inúteis, de pistas falsas, de testemunhas dissimuladas, de suspeitos sarcásticos. Meio chutado, embora o tom grave, quase filosófico, Nicolau diz:
“Há no fundo de toda mulher o desejo repulsivo de bancar a prostituta”.
“Mesmo sua mãe, sua mulher, suas filhas?”, Ricardo brinca.
Nicolau se levanta bruscamente, não diz uma palavra sequer e, sem olhar o amigo, sai. São os nervos. Os nervos. Há três semanas que Nicolau e Ricardo chafurdam num caso de difícil solução, por causa do persistente silêncio de algumas mulheres.
Madrugada. As primeiras manchas de sol.
O dono do boteco baixa com estrépito uma das portas de aço, e Ricardo ainda está lá, diante do seu copo...


Continua amanhã. Quadro: Aves noturnas (1942), de Edward Hopper.

2 comentários:

Hitch disse...

Notável. Conhecera o quadro de outras postagens, a declaração de Nicolau, de outras ausências. Aquele abraço.

Silvestre Gavinha disse...

Mayrant,
Nicolau está apaixonado, questionando sua sexualidade ou apenas em crise com suas idades????
Ele está cada vez mais humano.