"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

AS AVENTURAS DE NICOLAU E RICARDO, DETETIVES

3. O fugitivo

Nicolau e Ricardo perseguem um delinqüente que, de súbito, à porta da delegacia, escapou de suas mãos.
Depois de uma quadra de perseguição e fuga em meio ao trânsito de pessoas e carros, Nicolau, que é mais velho e há tempos esqueceu os exercícios físicos, pára para tomar fôlego. Ricardo, que ainda poderia continuar, faz a mesma coisa. E ficam os dois, curvados com as mãos nos joelhos, olhando o chão e respirando. Ouve-se um alarido de freios e em seguida o baque surdo de um impacto. Ricardo sorri. Correm na direção do acidente.
“Punição!”, diz Ricardo, certo de que a vítima foi o fugitivo.
Não. Foi uma mãe, com seu bebê. Este, sobre um tapete vermelho, ainda treme a mãozinha (não se sabe até quando), enquanto a mãe, caída na calçada, contempla a vitrine de uma loja com o olhar vítreo.
Ao longe, no fim da rua, o fugitivo ainda corre...


Amanhã, o quarto episódio. Imagem: detalhe da capa da edição portuguesa de Down there, de David Goodis.

3 comentários:

Anônimo disse...

Insanamente lírico, insanamente genial. Tudo aí, meu amigo: humor, dor, passagem...Aquele abraço. T

Lidi disse...

Nossa, Mayrant, sempre comento dos finais surpreendentes em teus contos, mas este... impossível descrever a sensação que me causou. Principalmente, a imagem do bêbe sobre um "tapete vermelho" ainda tremendo a mãozinha e da mãe contemplando a "vitrine com o olhar vítreo". Enquanto o fugitivo ainda corre... Sem comentários. Parabéns!!

Bárbara disse...

... e,assim,seguem os fugitivos e sogrem os inocentes.

Bela representação da impunidade.

Um abraço, Mayrant.