"Você lê esse anúncio: uma oferta assim não é feita todos os dias. Lê e relê o anúncio. Parece dirigido diretamente a você, a ninguém mais. Distraído, deixa cair a cinza do cigarro dentro da xícara de chá que estava bebendo neste café sujo e barato. Torna a ler. Solicita-se historiador jovem. Organizado. Escrupuloso. Conhecedor da língua francesa. Conhecimento perfeito, coloquial. Capaz de desempenhar funções de secretário. Juventude, conhecimento do francês, preferentemente que tenha vivido na França por algum tempo. Três mil pesos mensais, comida e aposento cômodo, batido pelo sol, estúdio bem instalado. Só falta seu nome. Falta apenas que as letras do anúncio informem: Felipe Montero. Solicita-se Felipe Montero, antigo bolsista na Sorbonne, historiador cheio de dados inúteis, acostumado a exumar papéis amarelados pelo tempo, professor auxiliar em escolas particulares, novecentos pesos mensais. Mas, se você lesse isso, ficaria desconfiado, tomaria tal coisa como brincadeira. Donceles 815. Apresentar-se pessoalmente. Não há telefone."
FUENTES, Carlos. Aura. Porto Alegre: L&PM, 1981. Tradução de Olga Savary. 66p.
ESTILO. Um anúncio, nos classificados. Preciso, perfeito, misterioso, sobrenatural, quase o duplo de quem o lê. De modo que não há como recusá-lo. Capturado o protagonista, capturado o leitor, que só fecha a novela quando a última linha se esvai, e maravilhado, ciente de que leu um dos mais singulares e impressionantes textos literários do século XX; tão original e único, que se torna inimitável.
2 comentários:
Conselho/Pedido: Continue essa "série".
Aura é um livro maravilhoso! E, aproveitando, faço o mesmo pedido do Unknown! Estou adorando essa série. Um abraço.
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