"Nessa manhã de domingo de maio, aquela moça que mais tarde seria motivo de sensação em Nova York acordou muito cedo, para uma curta noite de sono. Um minuto atrás ela dormia, no minuto seguinte ei-la completamente desperta e atolada no desespero. Era um desespero que ela talvez já tivesse sentido mil vezes, nas 365 manhãs do ano. Em geral, a causa do seu desespero era remorso, dois tipos de remorso: o remorso, em suma, de saber que, fizesse lá o que fosse, nada de bom lhe resultaria."
O'HARA, John. BUtterfield 8. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005. Tradução de Hélio Pólvora. 306p.
ESTILO. Neste romance, que constitui um dos retratos mais fiéis e crus de sociedade americana dos anos que se seguiram ao fim da Lei Seca, o início parece algo despretensioso e comum, mas em poucas linhas oferece, em filigrana, a dimensão de uma tragédia: a personagem, motivo de sensação mais tarde numa cidade em que tudo é possível e nada surpreende, acorda muito cedo, depois de ter ido dormir muito tarde, e, ao despertar, mergulha no desespero, causado pelo remorso. O que a moça fez e o que fará são as perguntas que o relato terá de responder.
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