A ousada capa da edição de 1994. |
"Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita."
NABOKOV, Vladimir. Lolita. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. Tradução de Jorio Dauster. 358p.
ESTILO. A confissão lírico-amorosa do narrador, tão patética que contrapõe alma e lama, atinge o ápice ao descrever, sonoramente, o passeio sensual do nome da amada por sua boca, ao pronunciá-lo. Depois, se diverte com os muitos epítetos que ela recebe, conforme o que faz ou onde está, e revela, para assombro do leitor, de forma sutil, en passant, que ela é pouco mais que uma criança. E aí está o aperitivo para um dos mais escandalosos e bem construídos romances do século XX.
Um comentário:
Mayrant, meu caro. Que ótima iniciativa, essa. Tempos atrás eu acompanhava um blogue (extinto já) em que o autor compartilhava seus estudos e aprendizado sobre as técnicas do Romance. Um dos post's tratava do início dos grandes romances, exatamente como você está fazendo aqui. Dos outros não me lembro, mas de dois, sim: o da Lolita, que você também mencionou; e o do Pedro Páramo, do Rulfo. Vou acompanhar com mais frequência esse seu espaço sempre rico em conteúdo.
P.S.: Parabéns pelo novo livro. Mande notícias, quando puder.
Abraços.
Wilson Gorj
gorjeditor@gmail.com
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