"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 25 de maio de 2013

A VIDA DENTRO DOS LIVROS, 3

Mais uma bela capa de Eugênio Hirsch.
Semana passada, de passagem pela Estação da Lapa, principal terminal rodoviário urbano de Salvador, entrei num sebo e fiquei olhando os livros, até que, lá fora, a chuva diminuísse e eu pudesse ir para casa. Em meio a um monte de títulos banais (as obras de gosto de moda durante as décadas de 80 e 90 e que ninguém mais lê, assim como, daqui a alguns anos, ninguém mais lerá nem os "tons" nem os "subtons" atuais), encontrei um exemplar de Armado cavaleiro, o audaz motoqueiro (1980), de Herberto Sales. O estado físico era ruim: lombada ferida, capa colada meio torta, miolo dividido em dois e com duas páginas "mordidas" pela impaciência do leitor em separá-las sem o uso adequado de uma lâmina. A mancha, no entanto, estava preservada e, como o papel é de ótima qualidade, quase não havia pontos de ferrugem nas margens. Ao fim, depois de regatear com o vendedor, o livro ficou por quatro reais, que paguei com duas notas de dois. Em casa, dias mais tarde, restaurei todo o exemplar. Retirei a capa, recuperei a lombada, colei o miolo, recoloquei a capa e a protegi com uma sobrecapa. Fiz tudo isso pelo prazer de fazer reviver o livro, como um médico que cura um doente e, depois, ao vê-lo são, de volta à sua vida normal, sente-se satisfeito. E também porque estava lá, rabiscado na falsa folha de rosto, o seguinte: "Para Clélia e Evaldo, homenagem de afetuosa estima e admiração de Herberto, Salvador, 4-4-81". Um dia, um momento, uma pessoa, ou talvez três, irrecuperáveis, perdidos para sempre.

2 comentários:

Carlos Barbosa disse...

Raros conhecem esse tipo de alegria, Mayrant. E eu, aqui, admirado com a coincidência de ter (re)lido esta semana o conto "Pistoleiro?", que consta da segunda parte desta edição do "Armado cavaleiro...", por tê-lo citado em um poeminha lá no blogue. Abraços, e parabéns pelos "Encantos do sol", cuja leitura concluí. Adiante, comentaremos. Abr (carlos barbosa)

aeronauta disse...

Que texto bonito, Mayrant, terminei-o com lágrimas nos olhos. Saudade de nossos passeios pelos sebos aos sábados, saudade de você. Abraços.