A generosidade perdeu o seu arquétipo. Morreu hoje, pela manhã, o historiador Ubiratan Castro de Araújo, diretor geral da Fundação Pedro Calmon, professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da UFBA, e membro da Acadêmia de Letras da Bahia. Conheci o prof. Ubiratan em 2008, quando cheguei para trabalhar na FPC. Desde então, aprendi com ele muitas lições, mas a maior de todas foi a de que ainda existe, neste mundo, generosidade sem intenções de crédito e débito. Ele era generoso porque era generoso, e um humanista. Um ótimo exemplo aconteceu em setembro, não por acaso o meu último encontro com ele. Eu estava em minha sala, trabalhando, e recebi o recado de que ele queria falar comigo. Subi, fui recebido em sua sala, ele me cumprimentou, alegre e empolgado como sempre, e foi logo perguntando como estava a edição do livro O automóvel, conto de Herberto Sales que a FPC e a editora Casarão do Verbo publicaram em dezembro, na coleção Estante de Bolso. Falei que a digitação estava pronta, em fase de revisão, e que em breve eu montaria o original para enviar à editora, onde se daria a editoração. Depois, acrescentei que, até a impressão, todo o processo consumiria em torno de dois meses e que, sendo assim, dificilmente cumpriríamos o cronograma, para lançamento em novembro. Pacientemente, e com humildade, ele respondeu que não era preciso pressa, que aprontássemos o livro sem agitação e o lançássemos em dezembro. Foi a última vez que nos encontramos, e esta é, sem dúvida, uma cena poderosa, que revela o quanto o prof. Ubiratan era generoso e humilde. Ele não viu o lançamento de O automóvel e já não vê as cores deste mundo, mas continuará existindo para todos aqueles que com ele conviveram e que aprenderam, com sua forma cortês de lidar com as situações mais corriqueiras ou extremas, que a dimensão da sabedoria de uma pessoa tem a medida de um gesto simples, sem soberba.
Um comentário:
Além de um Excelente professor e historiador.
Sentiremos saudades...
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