Carmem, de Prosper Mérimée, é uma das minhas novelas favoritas. A cada dois ou três anos a releio. Depois assisto à sua mais notória adaptação para o cinema, com Rita Hayworth e Glenn Ford, e direção de Charles Vidor. Da última vez que a reli, me lembrei de outro livro: Carmen ou o desencontro dos sexos nos anos 80, do alemão Wolf Wondratschek, um longo poema narrativo com ironias assim: "A gente nem tem tempo de berrar com a própria boca". Bem, fui à estante pegá-lo. Para o meu espanto, não o achei na seção de literatura de língua alemã. Ou eu o pegara e pusera em outro nicho ou (o que eu temia fosse a mais pura verdade) levara-o ao sebo para, com outros, trocá-lo por algum livro de que necessitara em algum momento. Já fiz muito isso, especialmente na época da graduação e do mestrado. Decidi ir direto ao sebo e, sem nenhuma dificuldade, lá o achei, o mesmo exemplar. Realmente, eu o envolvera numa troca. Mas havia ainda uma outra surpresa, redentora: na terceira capa, eu havia rabiscado a lápis um poema, do qual já não me lembrava e nem tinha cópia. Um poema perdido recuperado por um ato de releitura. Depois deste episódio, não há como não acreditar que, de fato, reler um livro constitui sempre uma nova descoberta: do texto, do autor e de outras coisas.
Um comentário:
Faltou postar o poema.
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