O
Brasil é um país de extremos em quase tudo. E esta assertiva, infelizmente,
aplica-se também à literatura, que, de um lado, tem Graciliano e Drummond e, do
outro, os intragáveis autores de moda e momento. O que vem pelo meio pouco interessa,
porque nem é linguagem em modo radical, nem diversão em estado bruto. É por isso
que a literatura brasileira talvez seja a única, no mundo, cujo cânone encolhe
a cada ano, em lugar de aumentar. Posto isto, eu diria que a novela Só as mulheres e as baratas sobreviverão,
de Claudia Tajes, é, ao mesmo tempo, literatura, porque reflexiva e irônica, e
entretenimento, por constituir uma história original, despretensiosa e cheia de humor. O
argumento é simples: num sábado, uma mulher, prestes a sair para um encontro,
abre o armário para apanhar seu melhor vestido e, de súbito, depara-se com uma
enorme barata. Apavorada, fecha o armário e, só de toalha, não faz mais coisa alguma.
Fica ali, impotente, frágil, incapaz de reagir diante da presença daquele
inseto hediondo. Só lhe resta conversar com a barata, contar-lhe toda a sua
história, enquanto tenta, pelo telefone, chamar alguém que lhe faça o favor de
varrer de sua noite de sábado aquele obstáculo. O ápice da narrativa se dá
quando a protagonista telefona para a sua empregada, e esta, sem nenhuma
afetação, com a maior naturalidade, recomenda-lhe a leitura de Clarice
Lispector... Depois dizem que o povo não lê, nem gosta de ler. Será? Ou isso é desculpa de político indolente? A reflexão
final da narradora, ao comparar mulheres e baratas, inspirada na ideia de que estas sobrevivem a tudo, é: “Eu não me espantaria se,
depois do estouro da bomba, mulheres viessem em hordas de todas as partes para
ajeitar a bagunça”. Nem eu.
Publicado originalmente na Verbo 21, na coluna Crítica Rasteira, em dezembro de 2012.
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