"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 6 de janeiro de 2013

LEITURAS, 19: MULHERES


O livro As baianas (Casarão do Verbo, 2012) surgiu de uma conversa de Elieser Cesar comigo, durante a Bienal do Livro da Bahia de 2009, sobre o livro As cariocas, de Sérgio Porto. Portanto, algum tempo antes do seriado exibido pela Rede Globo e que acabou se ramificando em outros, de qualidade duvidosa. Bem, o projeto vingou, conseguiu editor antes mesmo de ser gerado e, escolhidos os seis autores, os contos foram escritos e, já em livro, experimentaram um relativo êxito doméstico. O que não sabíamos era que, em 2006, um artista japonês publicara em seu país a obra Mulheres (Zarabatana Books, 2007), igualmente seis narrativas cujas protagonistas são mulheres. Ou, se preferirmos, seis estudos gráficos sobre a essência do feminino num Japão pós-guerra, precisamente na década de 1960, quando a reconstrução do país era evidente, e a modernização, uma consequência inevitável, como a liberdade sexual. É neste contexto que o gekigá (“geki”, drama, e “gá”, ilustrado) de Yoshihiro Tatsumi se desenvolve e coloca as mulheres em luta consigo mesmas e com o mundo à sua volta. As seis narrativas gráficas, simples e com exatas pinceladas de realismo (o autor não se perde em excessos), aproximam-se muito do que os autores de As baianas se propuseram a escrever, inspirados em Sérgio Porto. Se na intitulação dos contos, optamos por seguir o modelo sintético do escritor carioca (A guerreira da Lapinha, A santinha da Ribeira, A putinha da Vitória etc.), o quadrinista japonês preferiu, no geral, a forma analítica e assim nomeou seus contos: A mulher determinada, A mulher que namorava, A mulher que cuidava de um homem, A mulher lasciva, A mulher que murmurava, A mulher que pescava. O gibi de Yoshihiro Tatsumi, um veterano dos quadrinhos japoneses, é uma excelente porta de entrada para uma arte séria e profunda, que começou há muito tempo, no século XIX, quando o insigne gravador Hokusai (1760-1849) decidiu soltar a mão e criar “de maneira inconsequente”. De seu ato, provêm o “mangá” e o “gekigá”: o primeiro, mais ingênuo e romântico; o segundo, mais sisudo e realista, representando dramas humanos com a relativa complexidade psicológica que só a literatura e o cinema alcançaram.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo post, instigante HQ. Desde o ano passado renovei com gosto minha admiração pelos quadrinhos japoneses. Dois deles, Aventuras de menino e Solanin, embora lançados como mangás, suspeito que sejam maravilhosos "gekigás". Aquele abraço. T