O livro As baianas (Casarão do Verbo, 2012) surgiu de uma conversa de
Elieser Cesar comigo, durante a Bienal do Livro da Bahia de 2009, sobre o livro
As cariocas, de Sérgio Porto.
Portanto, algum tempo antes do seriado exibido pela Rede Globo e que acabou se
ramificando em outros, de qualidade duvidosa. Bem, o projeto vingou,
conseguiu editor antes mesmo de ser gerado e, escolhidos os seis autores, os
contos foram escritos e, já em livro, experimentaram um relativo êxito
doméstico. O que não sabíamos era que, em 2006, um artista japonês publicara em
seu país a obra Mulheres (Zarabatana
Books, 2007), igualmente seis narrativas cujas protagonistas são mulheres. Ou,
se preferirmos, seis estudos gráficos sobre a essência do feminino num Japão
pós-guerra, precisamente na década de 1960, quando a reconstrução do país era evidente,
e a modernização, uma consequência inevitável, como a liberdade sexual. É neste
contexto que o gekigá (“geki”, drama,
e “gá”, ilustrado) de Yoshihiro Tatsumi se desenvolve e coloca as mulheres em
luta consigo mesmas e com o mundo à sua volta. As seis narrativas gráficas,
simples e com exatas pinceladas de realismo (o autor não se perde em excessos),
aproximam-se muito do que os autores de As
baianas se propuseram a escrever, inspirados em Sérgio Porto. Se
na intitulação dos contos, optamos por seguir o modelo sintético do escritor
carioca (A guerreira da Lapinha, A santinha da Ribeira, A putinha da Vitória etc.), o
quadrinista japonês preferiu, no geral, a forma analítica e assim nomeou seus
contos: A mulher determinada, A mulher que namorava, A mulher que cuidava de um homem, A mulher lasciva, A mulher que murmurava, A
mulher que pescava. O gibi de Yoshihiro Tatsumi, um veterano dos quadrinhos
japoneses, é uma excelente porta de entrada para uma arte séria e profunda, que
começou há muito tempo, no século XIX, quando o insigne gravador Hokusai
(1760-1849) decidiu soltar a mão e criar “de maneira inconsequente”. De seu
ato, provêm o “mangá” e o “gekigá”: o primeiro, mais ingênuo e romântico; o
segundo, mais sisudo e realista, representando dramas humanos com a relativa
complexidade psicológica que só a literatura e o cinema alcançaram.
Um comentário:
Belo post, instigante HQ. Desde o ano passado renovei com gosto minha admiração pelos quadrinhos japoneses. Dois deles, Aventuras de menino e Solanin, embora lançados como mangás, suspeito que sejam maravilhosos "gekigás". Aquele abraço. T
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