Vai longe o tempo em que um livro de literatura se vendia e circulava só pelo seu conteúdo. Claro que isso ainda ocorre, nos casos dos escritores que ou se inscreveram definitivamente na história da literatura, pelo seu valor estético ou de assunto (Kafka, Faulkner, Camus, Buzzati, Bandeira) ou que, além disso, foram incorporados à cultura (Pessoa, Salinger, Neruda, Calvino, Borges). Mas, com a multiplicação do número de autores, uma capa atraente é fundamental, como esta, do volume de poemas de Kátia Borges, uma das mais autênticas vozes da poesia contemporânea na Bahia. É uma capa de observador curioso, de voyeur urbano que em cada janela acesa, de prédios ou de ônibus, vê um mundo. Uma capa que nos coloca dentro de um veículo que passa, de um livro que, seduzidos, logo abrimos, a esmo, para nos depararmos com versos assim:
DESERTO
Eu te asseguro que nunca estive só,
mesmo quando o mundo
inteiro pousou seu peso
sobre o meu ombro. E muito
menos quando o vento
arremessou a vida, como uma
carícia violenta, em meu rosto.
Belo poema, linda capa! Uma combinação perfeita de cores e palavras, que a fotografia da falecida escritora Maria Guimarães Sampaio, com sua lente sensível ao mistério, certamente inspirou. Aliás, a capa é toda esta foto!
4 comentários:
Com poemas como os de Kátia, nem precisava capa. :) Mas você tem razão. Somos uma geração cada vez mais visual, e os detalhes fazem toda a diferença. A capa é linda. E o título também. Abraço!
Bela capa mesmo, Mayrant. Belo poema. Admiro a poesia de Kátia. Abraços.
Grande livro, capa linda de nossa querida Maria Sampaio, e poemas belíssimos de uma das maiores poetas da contemporaneidade.
Oi, Mayrant, quando Maria ainda era viva, brinquei com ela sobre esta capa, que era o melhor poema de Ticket Zen, 90% da poesia do livro estava contida nela. Grande sorte conhecer Maria e compartilhar de generosidade tão rara. Obrigada por lembrar de mim. Um beijo imenso.
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