"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

VÁ E VEJA, 12: IMITAÇÃO DA VIDA

Finalmente disponível em DVD, Imitação da vida (1959), de Douglas Sirk. O assunto deste filme são muitos: família, preconceito, racismo e choque de gerações. Com sua habitual frieza e realismo ao abordar temas fortes, Douglas Sirk mostra o quanto o racismo faz doer e obriga que as pessoas sofram e sejam quem elas não são. Annie é negra e teve uma filha (Sarah Jane) com um branco. A menina despreza a mãe, pois entende, desde cedo, que não pode se permitir ser negra (ou filha de uma negra) num mundo onde "ser de cor" é quase uma ofensa. As duas vão morar na casa de Lora, atriz branca cuja carreira no teatro começa a decolar, e sua filha, Susie. Na estrutura familiar, Anne passa a ocupar os espaços tanto de mãe quanto de empregada doméstica e governanta. Formam então uma família "estranha", sem a figura masculina e com duas mulheres destituídas do olhar comum do preconceito e do racismo. Nem Lora lembra que Anne é negra, nem esta a faz recordar que ambas são, na cor da pele, tão diferentes. Elas são mulheres sem homens e com duas filhas para criar num mundo de competição e intolerância, isto é tudo. Tal condição exige que se ajudem mutuamente, cada uma exercendo a função que a sociedade previamente lhes reservou. E suas filhas, à parte, vão vivendo com se fossem irmãs. Com o passar dos anos, novos problemas, especialmente com Sarah Jane, que tenta a todo custo escapar da mãe, deixar de ser "a filha de uma mulher negra". É então que o espectador sente a dor mais aguda e brutal, a dor do desprezo absoluto, do abandono, da traição, e compreende como a sociedade, com seu sentido gregário e sua propensão à intolerância ao "outro", faz mal ao indivíduo e também à vida. A sequência final, em que negros e brancos dividem um mesmo espaço público, entrou para a história do cinema, por sua metáfora da igualdade entre as pessoas. E poucos chegam aquele ponto sem derramar lágrimas (e não poderia ser diferente, uma vez que o tema musical que emoldura a cena é um lamento de dor, na voz rasgada de Mahalia Jackson). Um filme que, longe de imitar a vida, a reproduz no que ela tem de pior (o preconceito) e de melhor (a esperança).

4 comentários:

Rodrigo Rocha disse...

mayrant passei para conhecer seu blog ele é not°10, show, fantástico, muito maneiro com excelente conteúdo você fez um ótimo trabalho desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom

Mayrant Gallo disse...

Obrigado, Rodrigo! Também visitei seu blogue (ou site) e o linquei aqui, para divulgação e conquista de novos leitores e adeptos. Achei muito bom. Me fez pensar em voltar às minhas corridas em volta do Dique, aqui em Salvador. Farei isso. Abraço!

aeronauta disse...

Mayrant, vi esse filme hoje pela manhã, e até agora, final da tarde, não consegui sair dele. Talvez nunca mais consiga.

Palavras que apareceram aí embaixo: "tarde"

jed disse...

Vi faz muito tempo, acho que na televisão, dublado. O diretor Douglas Sirk é famoso também por outro filme, deve ser de 1956, Palavras ao Vento, com Lauren Bacall. Ele fazia dramalhões de bom-gosto, equilibrados, como poucos diretores conseguiam fazer. É isso aí.