"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 25 de abril de 2009

BRINQUEDO PERDIDO

Contato imediato
Ele me disse: "Venha segunda de manhã, vou receber umas galinhas, e então acertamos tudo". Foi exatamente o que ele disse: "receber umas galinhas". E por minha cabeça passou a imagem de um bando de putas invadindo seu escritório. "Você é detetive, não é?", perguntou, quando concordei em ir. "Hein?", insistiu, com impaciência, a voz grave, sólida, de quem está acostumado a ralhar com os subalternos. "Sou e não sou", respondi afinal, com firmeza. Ele ficou em silêncio e depois disse, num surto de cobrança: "Explique". Eu explicaria, mas não por telefone. Ou talvez apenas o fizesse compreender tudo, por uma imagem, uma precisa e feliz imagem. "Segunda-feira então, com as galinhas...", ironizei. Novo silêncio. "Certo, venha, mas venha cedo", ele disse, respeitando todas as vírgulas. E desligou.


Primeira parte do conto Brinquedo perdido, um noir de minha autoria, publicado na Revista da Academia de Letras da Bahia, n. 48, de Novembro de 2008, e que foi lançada recentemente. O conteúdo da revista inclui artigos, ensaios, contos, crônicas, poemas e textos teatrais. Entre os colaboradores figuram: Ruy Espinheira Filho, Carlos Ribeiro, Hélio Pólvora, Florisvado Mattos, Dorine Cerqueira, Aramis Ribeiro Costa, entre outros.

2 comentários:

Lidi disse...

Mayrant, como consigo esta revista?

Hitch disse...

Daqui, já restrito às paragens de Feira, fico no aguardo, no aguardo na leitura. Aquele abraço.