"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 25 de novembro de 2014

CHARLES BUKOWSKI VIVE

Capa da segunda edição.
Neste ano, completaram-se duas décadas desde a morte de Charles Bukowski. Ainda me lembro, e já se vão quase dez anos, de uma "regulagem" que um professor, na UEFS, tentou me dar porque levei alguns contos de Bukowski para minhas aulas de Teoria da Literatura. O motivo foi que os alunos, fascinados, divulgaram os contos entre si e, logo, Bukowski estava sendo lido por um público universitário muito maior do que eu pudesse imaginar. O professor alegava que o polêmico autor não escrevia alta literatura, mas ficção de baixo nível, vulgar e sem nenhum acréscimo ao leitor. Nem argumentei, para uma postura desta natureza não há argumentos. Apenas falei que o mais importante era que os alunos estavam lendo, e se divertindo e tirando algum proveito, porque Bukowski é sempre uma experiência peculiar.

Pois bem, passados tantos anos, Bukowski continua atual e lido ainda mais do que antes. A prova é que seus livros seguem em novas edições constantes, e mais obras vão sendo editadas, ano após ano. Além dos romances, os volumes de contos, sua poesia, que começa a sair na íntegra no Brasil, e não mais em antologias, e até os quadrinhos desenhados por Mathias Schultheiss, que receberam, há quatro ou cinco anos, uma nova edição, reunindo os dois volumes antes publicados, separadamente, pela L&PM, sob os títulos Delírios cotidianos e Nova York, 95 cents ao dia.

Segunda edição, em formato menor.
O artista alemão, muito influenciado por Will Eisner, consegue transpor para os quadrinhos a agilidade e o vigor dos contos de Bukowski, que funcionam tão bem quanto se lidos em sua forma original. E, neste sentido, o gibi constitui, para o público jovem que não conhece o autor, um aperitivo e, para seus fãs consumados, uma nova oportunidade de rever, literalmente, alguns de seus melhores contos, como Kid Foguete no matadouro e Os assassinos, um relato policial de ação à altura dos mais festejados autores do gênero.

Podemos dizer, assim, que estes vinte anos sem Bukowski são, na verdade, vinte anos com um Bukowski mais intenso e presente, pois, de fato, um autor só morre quando deixa de ser lido, e isso parece estar muito longe de acontecer com este escritor, que certa vez disse, no auge de sua consciência: "O anonimato é a dádiva".

Um comentário:

Marcus Borgón disse...

O preconceito com Bukowski é sintoma de falsa erudição. Preferência e gosto é outra história. Viva o Velho Safado!

Marcus Borgón