"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

DESAPARECIMENTOS

Hiroxima, depois que a Bomba a fez "desaparecer", em 1945.
Recebi, do escritor Carlos Barbosa, um e-mail com um texto (de autoria desconhecida) afirmando que nove "coisas" desaparecerão de nossas vidas nos próximos anos. São: o correio, o cheque, o jornal (impresso), o livro (impresso), o telefone fixo, a música, a televisão, os bens pessoais físicos, a privacidade.

Faltou ao autor do texto admitir que ele próprio vai desaparecer, como tudo e todos no Universo. Ora, não sei qual o assombro com relação a estes supostos desaparecimentos, nem tampouco a novidade. Se até Roma, que era o império dos impérios, desapareceu. Se até os dropes Dulcora, que eram como poeira nas vitrines das bonbonnières dos cinemas de antigamente, desapareceram. Epa, a palavra "bonbonnière" também desapareceu, do português brasileiro! E igualmente os cinemas de antigamente.

Volta e meia, aparecem na internet esses textos sem autoria, pregando originalidade, terror ou pessimismo. Já até acabaram com o mundo, duas ou três vezes. E mataram antecipadamente algumas pessoas, sempre célebres. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", já dizia Camões. Nada é perene, e mesmo o homem só o é, "temporariamente", enquanto espécie. Nenhuma novidade, portanto. Nenhum assombro: eu estou morrendo, você está, todos estamos. Somos desaparecimentos em curso. "Desde o instante em que se nasce já se começa a morrer". Cassiano Ricardo, poeta desaparecido.

O melhor a fazer é não dar atenção a esses textos sem autor. São o que há de mais execrável, tanto em ideias quanto em forma. E não servem mesmo para nada, nem sequer para nos tirar o sono.

Num dos melhores contos de Machado de Assis, que provavelmente o autor desconhecido não lê (verbo no presente, porque a leitura de literatura é sempre releitura), Deus volta-se para o Diabo e diz que, se ele não pode ser original ao escrever, que não escreva. Sábio conselho, que a Legião não logra seguir. Eu, inclusive. Laus Deo!

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