A Nova Alexandria, editora de São Paulo, criou tempos atrás uma coleção de clássicos brasileiros e universais adaptados para o cordel. Na coleção, está o nosso Antônio Barreto, poeta e cordelista baiano, com o seu A cartomante, em cordel (São Paulo, 2012), adaptado do célebre conto de Machado de Assis. Recebi do autor um exemplar na Bienal do Livro da Bahia, na terça-feira, li e gostei muito, por três motivos básicos: 1) o psicologismo do conto se mantém; 2) a ironia de Machado permanece intacta, e 3) a história, um dos melhores relatos curtos de Machado, continua a ser uma trama policial. Barreto, habilidoso cordelista que é, soube reverenciar Machado de Assis, ao mesmo tempo que o entrega, de bom grado, a um público que, talvez, por outras vias, não chegasse a conhece-lo. Portanto, esta adaptação, antes de promover um afastamento da obra machadiana, diluindo-a, constitui um portal de entrada para o seu universo: um dos mais instigantes e complexos de toda a literatura universal.
O início
"Camilo ria da amada
Com sarcasmo e ironia,
Apenas porque a moça
Por crença e ideologia
Consultou a cartomante,
Que algo estranho previa."
O meio
"Tinha vontade de rir...
E ria, ria sozinho...
Por saber que a cartomante
Retirara o seu espinho,
Devolvera-lhe a alegria
Pra seguir o seu caminho."
O fim
"Ele pegou-o pela gola
E deu fim na traição.
Com dois tiros disparados,
Outro corpo foi ao chão...
Restara somente um vivo,
Perdido na solidão."
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