Lisístrata (411 a. C.), de Aristófanes (nascido em 445 a. C., morto entre 385 e 380 a. C.), é uma das mais importantes peças gregas do período clássico. Só não é mais cultuada que as célebres tragédias de Sófocles, Ésquilo e Eurípedes. E, obviamente, por se tratar de uma comédia, classificada como "gênero menor" por Aristóteles, não recebe a devida atenção do público, da crítica, nem dos estudiosos. O riso, mesmo hoje, ainda é preterido em favor do páthos da tragédia ou do drama. Mas foi em Lisístrata que o cineasta Radu Mihaileanu buscou inspiração para o seu excelente filme A fonte das mulheres (2010). Se na referida comédia grega as mulheres resolvem fazer greve de sexo como forma de protestar contra a guerra e obrigar seus cônjuges e filhos a abandonar as sangrentas batalhas, as mulheres do filme o fazem por uma causa mais prosaica: forçar seus maridos a se dirigir à fonte para pegar água, preservando-as, assim, de um esforço maior, que, em estado de gravidez, prejudica-as gravemente. Porque presencia uma de suas vizinhas cair, ao descer da montanha com o peso de dois baldes de água, e perder o filho que trazia no ventre, Leila sugere que todas as mulheres façam "greve de amor", até que seus maridos se prontifiquem a buscar água ou consigam que o Governo a canalize ao centro da aldeia. Com este argumento, A fonte das mulheres promove um debate acerca de importantes questões, como a condição da mulher árabe, sempre vista à sombra de uma suposta supremacia masculina e à qual veta-se o direito à voz e à opinião, bem como ao conforto e ao conhecimento. No auge de sua heterodoxia, o filme propõe que se proceda a uma leitura crítica do Alcorão, seguida de uma revisão dos dogmas impostos, adotados convenientemente para o proveito dos homens. Pelos lábios de Lisístrata, aprendemos que "onde está o tesouro está o poder". Pelas atitudes daquelas mulheres árabes, seus maridos compreendem, de uma vez por todas, que, se o tesouro da fonte é a água, o das mulheres é o "amor".
Nenhum comentário:
Postar um comentário