L&PM e Rocco, 2011. |
O tom é de frieza e desinteresse; o assunto, sexo, drogas e violência; ao ritmo de festas, rock e videogame. Poucas vezes um romance foi tão cínico. E poucas vezes o cinismo foi tão belo. Com Abaixo de zero (Less than zero, 1985), Bret Easton Ellis apareceu para o mundo da literatura, e o fez de maneira contundente, descrevendo, num estilo seco e sem envolvimento emocional, o universo alienado dos jovens ricos da Califórnia. Clay, Rip, Kim, Alana, Blair, Muriel, Trent, Daniel e tantos outros (ninguém tem sobrenome) gozam as férias de fim de ano e, em seus carrões, perambulam por boates, restaurantes, lanchonetes, shopping centers, bares, cinemas e festas. As conversas são vazias e giram sobre assuntos os mais fúteis. Eles não apreciam nada, e nada lhes importa, senão as canções do momento e as drogas, que os mantêm estimulados. As relações amorosas são efêmeras e, em geral, não vão além de uma trepada, num estado de ânimo tão intenso que faria desaparecer a espécie. Um motor de desencanto e impaciência conduz suas vidas, que, durante aquele mês, avançam mais um pouco em direção ao nada e ao fim. Quase ao final do livro, o narrador, que, sem dúvida, nos assusta com sua passividade e seu alheamento, incapaz de pronunciar qualquer reflexão, praticamente se justifica e define seu comportamento estoico e niilista: "Não quero me interessar. Se eu me interessar pelas coisas, vai ser pior. É menos doloroso não ligar". Creio que ele está certo. Como creio que este livro é tão mortal quanto um tiro. Experimente. Ou não. Às vezes, é melhor não ler. Não leia!
Um comentário:
Não lerei (rs). No mais, felicitações, tudo de bom nesse dia de balanço.
Aquele abraço. T
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