Do amor ausente, de Paulo Roberto Pires (Rio de Janeiro: Rocco, 2000), é um dos mais originais romances breves de nossa literatura, nos últimos anos. No estilo, mistura registro poético com linguagem protocolar; no assunto, contrapõe não-ditos com análises sutis; no desfecho, faz opção pela ambiguidade. A própria história é uma metáfora da impossibilidade de apreensão e domínio da vida, do amor, das relações. Sua originalidade o faz desgarrado de qualquer linhagem, para frente ou para trás. Um romance em tom menor (sem lamentos, nem queixas, nem gritos), discreto como uma brisa, mas de alcance largo, profundo. Reflexões, algumas singulares, outras meramente funcionais, em coerência com a narrativa, costuram a trama. Como esta, que desenvolve uma suposta teoria sobre o destino final das paixões: "As que se consomem em sim mesmas, e se apagam. As outras, que se extraviam por motivos vários, desde os desencontros cotidianos até a inadaptação à vida prática, que segue. Há ainda as que sequer se consumaram, que subsistem como memória simulada". A lamentar somente a péssima edição da Rocco, com erros crassos, tanto de revisão quanto de edição.
Também publicado na Verbo 21.
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