"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

VÁ E VEJA, 10: A JANELA DA FRENTE

Decisões radicais às vezes são tomadas pelos personagens de um filme exatamente porque a trama não pertence à vida, mas ao filme. Esta é uma regra que se aplica com frequência ao cinema norte-americano, especialmente o mais popular. Quando é um filme independente, ou de arte, ou de um diretor mais pessoal, como Sofia Coppola, a regra até pode ser quebrada, como em Encontros e desencontros. Já no cinema francês ou italiano acontece o contrário: é a coerência narrativa, baseada na verossimilhança, que estabelece a harmonia da trama. Um dos grandes exemplos modernos desta tendência é o poético A janela da frente (2006), de Ferzan Ozpetek. O casamento de Giovanna com Filippo não vai bem, e há algum tempo que ela está flertando com o vizinho do prédio em frente. Eles chegam a se encontrar, e ela precisa tomar a decisão de deixar o marido em favor do novo relacionamento, que promete ser intenso. Mas ela tem dois filhos, e a vida não é assim tão simples, como nos filmes. Então, coerentemente, ela vai optar por continuar a sua vida, com seu marido e seus filhos. Claro que apenas esmiucei a trama, deixando de lado propositalmente a poesia, as reflexões e vários outros aspectos (metalinguagem, citação a Janela indiscreta etc.) que fazem deste filme uma das melhores películas italianas dos últimos anos. E a festejada Giovanna Mezzogiorno, de O último beijo, mais uma vez dá um espetáculo de beleza e interpretação, bem na tradição das grandes atrizes italianas, como Sophia Loren, Claudia Cardinale e Monica Vitti.

2 comentários:

Lidi disse...

Nossa, Mayrant, esse teu post me tocou muito, parece que foi escrito para mim. Ainda não assisti a este filme. Espero que o meu amigo anônimo tenha para me emprestar. Um grande abraço.

Lidi disse...

Assisti, Mayrant. Maravilhoso.